Com comentários de Henrique Sebastião (FLSP)
Informações do LifeSiteNews
“Credo, Compêndio da fé católica” é o título da obra compilada pelo Bispo Auxiliar de Astana e lançado ao público pela editora do Sophia Institute. Dom Schneider lançou oficialmente o livro num evento realizado em Roma, bem próximo à Praça de S. Pedro, no dia 26 de outubro.
Formulado no estilo tradicional de perguntas e respostas, o livro aborda os aspectos mais essenciais e necessários para os católicos numa sociedade que, sob o comando de Francisco e seus bispos, vem abandonando progressivamente a moral católica de sempre.
Schneider aborda os artigos do Credo, a moral, as virtudes e as questões sobre o pecado, além dos Dez Mandamentos e os Mandamentos da Igreja, os Sacramentos e o Culto divino; inclui ainda um útil apêndice de credos, orações, pormenores sobre os ritos da missa tradicional, bem como um índice de erros relativos à Fé, acrescidos de tópicos que anteriormente ficaram sem resposta ou foram abordados apenas superficialmente em catecismos antigos, incluindo a utilização das redes sociais e das novas tecnologias, a teoria da evolução, o problema da guerra justa e da pena de morte, a ideologia de género, a modéstia católica, o aborto, as várias religiões o primado do catolicismo, a liberdade religiosa, os escândalos na Igreja Católica, a infalibilidade do Papa, o magistério e o erro, pornografia e educação sexual, comunismo, maçonaria, globalismo, trans-humanismo, o movimento carismático, etc.
Na ocasião do lançamento, Dom Schneider declarou o seguinte:
Ofereço este trabalho com o objetivo de que o Bispo de Roma, o Padre Geral, seja um guia para os fiéis, fortalecendo-os na sua fé e servindo de guia para o ensinamento imutável da Igreja. Consciente do dever episcopal de ser um ‘nutridor da fé católica e apostólica, como se afirma no Cânone da Missa, desejo também dar testemunho público da continuidade e integridade da Doutrina católica e apostólica.
Entre os que teceram elogios ao livro encontram-se prelados e académicos católicos notáveis, incluindo o Cardeal Robert Sarah, antigo prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, o Bispo de Tyler, Joseph Strickland, e o Dr. Scott Hahn. Para saber um pouco mais a respeito, acesse aqui o nosso site de conteúdos abertos.
Parece uma boa notícia e confiamos que o Catecismo de Athanasius Schneider contenha realmente os fundamentos da Fé católica corretamente explicados. Mas há pontos que não fecham nessa situação e não podemos deixar de considerar, ao mesmo tempo, que esta é mais um reflexo e um claríssimo sinal da loucura total dos dias em que vivemos, quando um bispo precisa se levantar para o básico da Fé cristã aos fiéis, reafirmando a Doutrina de sempre, enquanto que o papa e a grande maioria dos outros bispos segue em direção contrária, ensinando um evangelho totalmente novo a toda a Igreja.
Fato é que com notícias como esta, uma inevitável e incômoda pergunta fica no ar, sem resposta. Qual catecismo, em caso de conflito, é o correto: o de Dom Schneider – que foi aprovado por um Ordinário dos EUA –, ou o “amarelinho” promulgado solenemente com a autoridade apostólica de João Paulo II para toda a Igreja?
Considerando a autoridade de um catecismo proveniente de um papa reconhecido como tal e que foi, além do mais, canonizado, em comparação com o de um bispo auxiliar, como poderiam os fiéis católicos pretender ficar com o último? Isso é extremamente contraditório em termos de legitimidade e de autoridade.
Entendam bem os leitores que não quero aqui passar a impressão de azedume, de que somos “do contra”, que só reclamamos ou coisa assim. Ao contrário, somos positivos e acreditamos que de todo mal (como esta grande crise que atravessamos) Deus infalivelmente tira um bem maior. Seguimos crendo, rezando e vivendo a espiritualidade positiva de São Francisco de Sales, que é da nossa vocação: a santidade deve ser buscada e vivida com alegria, pois a verdadeira devoção torna toda dificuldade em doçura e corrige a acidez desta vida (Filoteia, I, cap. 2).
O que não podemos deixar de observar, para o bem das almas, é que parece uma posição um tanto quanto esquizofrênica reverenciar e jurar fidelidade a Francisco, como papa legítimo e verdadeiro Vigário de Cristo na Terra, por um lado, e ao mesmo tempo ignorá-lo e desobedecê-lo, e ensinar a todos que façam o mesmo, pelo outro lado. Porque, como já perguntamos aqui, qual inferior pode resistir, ignorar ou desobedecer ao seu superior?
Caso ainda não o tenha feito, querido irmão ou irmã, sugiro a leitura de nosso artigo “O que é preciso para se depor um papa”, neste link, porque aí mesmo, nessa questão, é que reside o cerne de todo o problema que nos assola. Ordinariamente, para se afastar um herege, é necessário um concílio dos bispos da Igreja, de preferência feito pela maioria destes. Mas os tempos que vivemos são absolutamente extraordinários, porque nunca, jamais a Igreja teve um papa negando a fé e ensinado erros a toda a Igreja, levando ao risco do Inferno as almas dos fiéis católicos. Os alegados casos de papas que teriam, supostamente, incorrido em heresia no passado, não chegam nem perto do que temos hoje, isso é um fato e havemos ainda de falar a respeito. Então, sendo assim, que fazer?
Por ora não temos uma resposta definitiva. Encerramos repetindo o que dissemos antes: ao final de tudo, a grande questão que fica é o dilema maior dos nossos tempos:
- a regra da Igreja para o caso de um papa que caia em heresia é que ele seja afastado apenas por definição de um concílio geral, mas…
- ao mesmo tempo, a regra igualmente define que a Igreja não pode, em tempo algum, ter comunhão com um papa herege.
Como, então, conciliar uma coisa e outra, num tempo em que a grande maioria dos bispos compactua com o papa em suas heresias, como o falso ecumenismo que põe todas as religiões em pé de igualdade, um valor praticamente absoluto dado ao respeito humano, a fraternidade universal posta acima da verdade do Evangelho, a concepção de que a comunhão dos santos inclui os hereges, blasfemadores e apóstatas (Francisco prega isso, literalmente), o combate ao “clericalismo” (o nome que ele dá à dignidade e à autoridade dos nossos pastores, dado diretamente por Cristo), etc, etc.?..
É nada menos que impossível acreditar que, nas circunstâncias atuais, um concílio geral se reúna para declarar que Francisco é herege e que a Igreja deve cortar relações com ele. Humanamente falando, a situação é insolúvel. O que nos espera?
Nota
[1] HAYNES, Michael. Bishop Schneider publishes new catechism to defend ‘integrity of Catholic and apostolic doctrine, para o LifeSiteNews, disp. em:
https://www.lifesitenews.com/pt/analysis/bishop-schneider-publishes-new-catechism-to-defend-integrity-of-catholic-and-apostolic-doctrine/
Acesso 27/10/2023
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