O CONCÍLIO DE TRENTO definiu dogmaticamente que, sem a Fé Católica, “é impossível agradar a Deus”[1]. Também foi definido solenemente pela Igreja Católica como verdade de fé, ex cathedra, que só há uma verdadeira Igreja de Cristo, a Igreja Católica, fora da qual não há salvação[2].
Sua Santidade o Papa Leão XIII, explicitando o ensinamento sobre este ponto, ensinou:
Desde que a ninguém é permitido ser negligente no serviço devido a Deus (…) somos absolutamente obrigados a adorar Deus da maneira que Ele mesmo mostrou que deseja ser adorado. (…) Não deve ser difícil descobrir qual é a religião verdadeira se esta é procurada com uma mente imparcial e sincera; as provas são abundantes e evidentes (…) De todas essas [provas] é evidente que a única religião verdadeira é a estabelecida por Jesus Cristo mesmo, e Ele encarregou à Sua Igreja de proteger e propagar esta fé.”[3]
Destas fontes, como também de incontáveis outros ensinos do Magistério, está claro que a única religião positivamente desejada por Deus é a religião estabelecida pelo próprio Cristo de Deus, a Igreja Católica.
Todavia, na Liturgia da Sexta-Feira Santa no Vaticano, em 2002, o Pregador da Casa Pontifícia, o padre Capuchinho Raniero Cantalamessa, disse que as outras religiões “não são meramente toleradas por Deus … mas positivamente desejadas por Ele como uma expressão da riqueza inesgotável da Sua graça e do Seu desejo de que todos sejam salvos”[4].
Isso não é só heresia. Em resumo, é apostasia. É a absoluta e inegável traição do Evangelho e a Cristo mesmo. Pois, se as outras religiões também salvam e são capazes de nos levar a Deus, porque então Deus mesmo se fez homem e se submeteu a ser humilhado, torturado e morto por nós? Seu Sacrifício então teria sido inútil, porque seria totalmente desnecessário, se nós pudéssemos ser salvos apenas seguindo o judaísmo ou o islamismo ou mesmo o budismo, para citar alguns exemplos.
Vejamos bem o que São João Apóstolo, o Discípulo Amado, ensinou, inspirado pelo Espírito Santo:
— “Quem é mentiroso senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Esse é o Anticristo, que nega o Pai e o Filho.” (1Jo 2,22)
Assim, islamismo, judaísmo, hinduísmo, budismo e qualquer outra religião que rejeite o Cristo, de acordo com as Sagradas Escrituras, é uma religião do Anticristo. Ponto.
É duro, é muito duro dizer isso, mas a respeito das religiões heréticas ditas cristãs, como é o caso da Igreja Ortodoxa e do Protestantismo, São Paulo Apóstolo ensinou que os falsos credos são “doutrinas de demônios” (1Tm 4,1). Sendo assim, poderíamos ter boas relações com as pessoas que, com reta intenção e boa consciência, integram essas religiões e seitas? Sim, podemos e devemos agir assim, por caridade, mas isso não é o mesmo que aceitar aquilo em que essas pessoas creem, e menos ainda dizer que a questão da religião verdadeira é coisa secundária, ou abrir mão da nossa obrigação de tentar convertê-las à verdade que salva.
Como, então, podem as religiões do Anticristo, e os falsos credos dos apóstatas, que são “doutrinas de demônios”, serem consideradas como “não só meramente toleradas por Deus, mas positivamente desejadas por Ele”? Isto significaria dizer que Deus positivamente deseja a existência de religiões que, tal como o protestantismo, blasfemam contra a Sagrada Eucaristia e contra todos os Sacramentos, ou das seitas que pregam o desprezo (em alguns casos até o ódio) contra a devoção à Bem-Aventurada Mãe de Deus. E isso apesar do fato de Nossa Senhora em Fátima ter pedido os cinco primeiros sábados em reparação das blasfêmias contra o seu Imaculado Coração, que são justamente frutos dessas falsas religiões.
Em resumo, o sermão do Pe. Cantalamessa pretende dizer que Deus positivamente quer o erro, o pecado, aquilo que contraria a Doutrina de Cristo. Que Deus positivamente quer mentiras. Que Deus positivamente quer o mal das almas.
Nosso Senhor certamente permite o mal, porque não interfere na vontade livre do homem. Mas é blasfêmia afirmar que Deus deseja algo de mal, visto que Deus não pode desejar senão aquilo que é bom, porque Ele é Bom. Deus não pode querer o mal porque o mal é contrário às suas perfeições[5].
Jesus é orgulhoso?
As blasfêmias do Pe. Cantalamessa não terminam aqui. Ele também afirma que Deus é “humilde ao salvar”, e a Igreja deve seguir o exemplo. “Cristo é mais preocupado com que todas as pessoas sejam salvas do que com o fato de que elas devam conhecer quem é seu Salvador”. Disse isso para um grande público na Basílica de São Pedro, que incluiu o Papa João Paulo II e altos oficiais do Vaticano.
Pode soar doce o que ele disse, e certamente esse tipo de pregação agrada muita gente, mas o Pe. Cantalamessa indiretamente acusa Jesus Cristo de orgulho. Quando diz, “Cristo é mais preocupado com que todas as pessoas sejam salvas do que com o fato de que elas devam conhecer quem é seu Salvador”, este é um “piedoso” desprezo ao ensinamento da santa Igreja durante dois mil anos, que assegura ser necessário à alma conhecer, amar e servir a Cristo neste mundo, se deseja ser feliz com Ele eternamente no próximo. O Pe. Cantalamessa, assim, defende o ensino heterodoxo e herético do Pe. Karl Rahner dos “cristãos anônimos”.
De fato, há poucas décadas, se um estudante de sete anos de idade expressasse esta nova doutrina do Pe. Cantalamessa, ele seria considerado inepto para receber a sua primeira Sagrada Comunhão. Agora, 50 e tantos anos dentro da “nova Primavera” do Vaticano II, esta apostasia é pregada em uma Sexta-Feira Santa no Vaticano pelo pregador da Casa Pontifícia!
Em 1980, este mesmo Pe. Cantalamessa foi designado pelo Papa João Paulo II como Pregador da Casa Pontifícia, cargo que ele ocupa até hoje (ele tem atualmente 89 anos de idade, razão pela qual, graças a Deus, as suas atividades, hoje, foram muito reduzidas). Este texto, até aqui, é basicamente a reprodução de um artigo de John Vennari, publicado há duas décadas na revista Permanência (acesse aqui), e postado no site homônimo com o título “Do pentecostalismo à apostasia”. Retrata bem o pasmo e a a indignação que os católicos sentiam já no tempo de João Paulo II, mas que vinha crescendo desde muito antes, mais exatamente desde a revolução instaurada com o Concílio de João XXIII. De lá para cá, muita coisa aconteceu, consolidando uma crise que só piora, cada vez mais e mais, até atingir e superar, em muito, as raias do tolerável: entre muitíssimas outras coisas, João Paulo II beijou o Alcorão, o livro sagrado dos inimigos declarados de Cristo, que renega a a Santíssima Trindade, todos os Sacramentos da Igreja e a fé católica como um todo, além de conter blasfemas contra a Santíssima Virgem e contra Nosso Senhor; Bento XVI pregou que os católicos devem desejar “que os protestantes sejam fortalecidos em suas confissões”[7] apóstatas, e depois… Depois veio a destruição total, com Bergoglio-Francisco.
Bergoglio-Francisco, que entre outras coisas:
• ensina que é pecado querer converter as almas para Cristo;
• ensina que as diferentes religiões são da Vontade de Deus;
• ensina que judeus, muçulmanos e pagãos não precisam de conversão para ganhar o Céu (uma heresia introduzida pelo Vaticano II a qual todos os papas ditos ‘conciliares’ aderiram, mas este o faz com especial ênfase e insistência);
• ensina que os hereges, os blasfemadores e os apóstatas são parte da Comunhão dos Santos;
• basta a Fé para receber a sagrada Comunhão Eucarística (fazendo eco com o sola fide de Lutero);
• ensina que o heresiarca e blasfemador Lutero foi um grande reformador da Igreja, inclusive o homenageando com selo e festas no Vaticano;
• participa de cultos pagãos de invocação de espíritos da natureza (demônios, segundo a Teologia católica) e chegou a promover tais rituais dentro do próprio Vaticano;
• incentiva e promove a nefanda ideologia LGBTQI+, inclusive com a aprovação das bênçãos aos ditos “casais” gays;
• continuamente elogia e incentiva grandes promotores do aborto no mundo, como no recente caso do Fórum de Davos (saiba mais);
• influencia os eleitores católicos ao redor do mundo a favor de candidatos de esquerda/comunistas;
• depõe, afasta ou pune os bons bispos, Dom Strickland, Dom Burke Dom Rogelio Llivieres e muitos outros, enquanto favorece e premia os mais, chegando ao cúmulo de elevar um cardeal escandaloso como “Dom Tucho” ao cargo mais importante da Igreja (saiba mais).
Não é de se estranhar que um respeitado teólogo papal, o Cardeal Mario Luigi Ciappi (falecido em 1996), que teve acesso ao Terceiro Segredo de Fátima em sua forma completa, declarou certa vez: “No Terceiro Segredo é revelado, entre outras coisas, que a grande apostasia na Igreja começará pelo topo”[6]. E olhe que ele foi poupado, não chegou a ver o que estamos vendo hoje. Sim, é inegável: se estamos vivendo já o tempo da grande apostasia profetizada desde os tempos antigos, ela começou pelo topo, pelo mais alto posto da hierarquia da Igreja, confirmando os muitos avisos que a Igreja recebeu a respeito (saiba mais) desde os Apóstolos até o presente.
Notas:
[1] Sessão V sobre o Pecado Original. Vide Denzinger Nº 787.
[2] A Igreja definiu esta verdade três vezes. A definição mais explícita, enérgica e fortíssima vem do Papa Eugênio IV quando proclamou ex cathedra, no Concílio de Florença, aos 4 de fevereiro de 1442: “A Santíssima Igreja Romana firmemente acredita, professa, e prega que nenhum desses que habitam fora da Igreja Católica, não somente pagãos, mas também judeus, heréticos e cismáticos, jamais podem ser participantes da Vida Eterna, mas que eles devem entrar no fogo eterno ‘”‘que foi preparado para o demônio e seus anjos'” (Mt 25, 41), a menos que antes da morte eles se juntem a Ela; (…) Ninguém, embora sua caridade seja tão grande quanto possível, ninguém, ainda que derrame seu sangue pelo Nome de Cristo, pode ser salvo a menos que dentro de si permaneça obediente e unido à Igreja Católica”. Claro, a única observação que se pode fazer neste caso se refere aos casos de ignorância invencível.
[3] Papa Leão XIII, Encíclica Immortale Dei, apud Denis Fahey, The Kingship of Christ and Organized Naturalism (Dublin: Regina Publications, 1943), pp.7-8.
[4] Todas as citações do sermão do Pe. Cantalamessa são de 2 de abril de 2002, Catholic News Service report.
[5] PERARDI, José, Padre. Explicação do Catecismo da Doutrina Cristã de São Pio X. Rio Grande da Serra: Realeza, 2022.
[6] Apud Gerard Mura, “The Third Secret of Fatima – Has it Been Completely Revealed?” (O Terceiro Segredo de Fátima – Ele foi completamente revelado?) Catholic Family News, março 2002.
[7] BENTO XVI. Principles of Catholic Theology. Building Blocks for a Fundamental Theology, San Francisco: Ignatius Press, 1982, p. 202.
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