Adolphe Tanquerey (Blainville, França, 1854 – Aix-en-Provence, França, 1932) foi um dedicado sacerdote e professor de Direito Canônico e de Teologia dogmática, além de autor de diversas obras sobre o tema que mais lhe encantava: a espiritualidade cristã, tantas vezes negligenciada, no seu tempo como hoje. Tornou-se membro da Companhia dos Padres de São Sulpício da França, recebendo a missão de auxiliar na formação inicial e permanente dos sacerdotes: tal espírito pedagógico transparece em suas obras, das quais podemos destacar: “Manuel de Théologie dogmatique”, “Synopsis Theologiae moralis et pastoralis”, “La divinisation de la souffrance” e “Précis de Théologie ascétique et Mystique”, além do supracitado clássico “Compendium de Théologie ascétique et Mystique” (‘Compêndio de Teologia Ascética e Mística’), que é uma das obras de referência para a fase inicial da presente formação.
Publicada pela primeira vez em 1924 e reeditada muitas vezes, em diversos países e idiomas, o reconhecido Compêndio de Tanquerey consiste em uma introdução personalizada e bastante completa aos fundamentos da ascese e da mística – como já diz o título –, para então desenvolver, em sua primeira parte, os princípios da vida espiritual, e na segunda parte uma exposição bem ordenada do progresso da vida interior cristã e católica.
Apesar de não se configurar tecnicamente em um manual e sim em um compêndio, oferece um resumo bastante amplo suficientemente completo dos termos de cada questão e de cada tópico apresentado. Seu objetivo é oferecer um lembrete imediato do essencial, tanto no campo da ascese cristã quanto do abandono à Graça pela Via Mística. Ainda que este Compêndio esteja, em certa medida, marcado pelo tempo em que foi escrito, seus méritos são inquestionáveis e, de fato, são bastante raros em nossos dias. Entre esses méritos podemos citar sua abordagem dos princípios do progresso espiritual, da luta contra a carne e as más inclinações da natureza decaída, da confiança na Graça e nos meios ordinários para aproveitá-la, bem como o mérito de assumir as complexidades dos temas, quando necessário, vencendo a tentação de optar por qualquer reducionismo simplista, à maneira de boa parte dos novos autores. Desse modo, até aquilo que pode parecer ao estudante de hoje como matéria duramente escolástica ou extrínseca, é recuperado na experiência direta das almas diligentes em atender o chamado à santidade. Aquilo que é definido por dogma, assim, mostra todo o seu potencial como hermenêutica da experiência da Fé, com a ortodoxia e a ortopatia[1] que se interpenetram e se sustentam mutuamente.
Nota:
[1] O cultivo dos corretos sentimentos, de modo coerente com a espiritualidade, a transcendência e a autêntica Fé dos cristãos.