365. — Que é a dor imperfeita ou atrição?
A dor imperfeita ou atrição é o desgosto ou pesar dos pecados cometidos, pelo temor dos castigos eternos e temporais, ou ainda pela torpeza do pecado.
366. — Por que é que a atrição é dor imperfeita?
A atrição é dor imperfeita porque provém de motivos menos perfeitos e próprios mais de servos que de filhos, e porque não nos obtém o perdão dos pecados senão mediante o sacramento.
Explicação. 1. A dor imperfeita, também chamada simplesmente atrição, é o desgosto ou pesar dos pecados: a) por temor dos castigos eternos e temporais. Deus, que é infinitamente justo, deve punir o pecado. Quem se arrepende dos seus pecados por temor dos castigos divinos, quer estes sejam eternos, quer temporais, tem a dor imperfeita. Quem, pelo contrário, se arrepende dos pecados só pelas consequências naturais que deles resultem, não tem dor suficiente para obter o perdão. — Há diferença entre os castigos temporais do pecado e as consequências naturais? Há; e podeis compreendê-lo pelos seguintes exemplos. Um indivíduo praticou um roubo, foi descoberto e por causa dele processado e condenado. Se se arrepende do seu pecado só porque mereceu a prisão, não tem verdadeira dor dele, pelo que diz respeito ao sacramento da penitência. Outro indivíduo caiu doente e considera a sua doença como um castigo do pecado. Se se arrepender do pecado por lhe haver merecido de Deus este castigo, esse indivíduo tem atrição; — b) ou pela torpeza do pecado. Quem considerar que o pecado é uma coisa torpe e indigna do homem, e mais ainda do cristão, e por esse motivo se arrepender dele, tem também a atrição.
2. Por dois motivos a atrição é uma dor imperfeita: a) porque nasce de motivos menos perfeitos, mais próprios de servos que de filhos. Ela é, em suma, excitada não pelo amor de Deus, mas pelo interesse e pelo amor pessoal; é-o pelo temor dos castigos merecidos de Deus; b) porque não nos obtém o perdão dos pecados senão mediante o sacramento. A atrição, por si só, não nos obtém o perdão dos pecados; é necessário lhe acrescentar a absolvição sacramental. Esta absolvição sacramental, para alcançar o perdão, exige na alma, pelo menos, a dor imperfeita. A este salutar temor da dor imperfeita se referia Jesus quando dizia: “Não temais aos que matam o corpo e não podem matar a alma: temei antes, porém, ao que pode lançar no inferno tanto a alma como o corpo”;[1] “Temei aquele que… tem poder de lançar no inferno: sim, eu vo-lo digo, temei a este”.[2]
Prática. — Quando vos fordes confessar, não vos contenteis com a atrição, mas excitai-vos sempre à contrição perfeita. Tereis assim maior segurança do perdão dos pecados, obtereis graças mais copiosas, tirareis melhor fruto da confissão e perseverareis mais facilmente no bem.
367. — É necessário ter dor de todos os pecados cometidos?
É necessário ter dor de todos os pecados mortais cometidos, sem exceção; e convém tê-la também dos veniais.
368. Por que é que é necessário ter dor de todos os pecados mortais?
É necessário ter dor de todos os pecados mortais, porque com qualquer deles se ofendeu gravemente a Deus, se perdeu a sua graça e se merece ficar separado d’Ele para sempre.
Explicação. 1. A dor é necessária. Sem dor, nenhum pecado é perdoado. Enquanto não estivermos arrependidos do nosso pecado, a nossa vontade continua a querer aquilo que Deus não quer e, portanto, a ser contrária a Deus. Enquanto a nossa vontade quer o que Deus não quer, Deus não nos pode perdoar. Deus detesta necessariamente o mal; mas enquanto não nos arrependermos do pecado, temos unido ao nosso coração aquilo que Deus detesta.
Ensina-nos o Espírito Santo: “Convertei-vos a mim de todo o vosso coração… e rasgai os vossos corações”.[3] “Convertei-vos… lançai para muito longe de vós todas as vossas prevaricações de que vos fizestes culpáveis; e fazei-vos um coração novo e um espírito novo”.[4] São Pedro intimava aos judeus: “Portanto, arrependei-vos e convertei-vos, para que os vossos pecados vos sejam perdoados”.[5] E a Igreja nos ensina que, entre todos os atos do penitente, a dor ocupa o primeiro lugar, isto é, é o mais necessário.[6] Um enfermo, por exemplo, que não possa confessar-se, que não possa manifestar os seus pecados, pode todavia ser absolvido e obter o perdão, se estiver sinceramente arrependido deles.
2. A dor deve se estender a todos os pecados mortais cometidos, sem exceção. Se apenas de um não se está arrependido, não se obtém o perdão de nenhum. O dom da misericórdia divina (e, portanto, do perdão) não se pode dividir: ou tudo ou nada, porque Deus não pode habitar debaixo do mesmo teto com o pecado. Todo pecado mortal é uma ofensa grave a Deus, faz perder a sua graça e merecer o inferno, a eterna separação d’Ele. Por conseguinte, enquanto se estiver preso a um só pecado mortal, está-se sempre em estado de ofensa a Deus, privado da sua graça etc. O arrependimento supõe o regresso do coração a Deus; mas não se pode regressar a Deus, enquanto se ama ainda que seja uma coisa só que Deus gravemente deteste e reprove.
3. Convém toda também dos veniais. A propósito dos pecados veniais, importa observar o seguinte: a) ou um indivíduo se confessa apenas de pecados veniais e, neste caso, para tornar válida a confissão, deve estar arrependido, ao menos, de um deles; mas, querendo obter o perdão de todos, deve estar arrependido de todos: b) ou, pelo contrário, confessa-se também de pecados mortais e, então, para obter o perdão destes, basta que esteja arrependido deles. Se, porém, quiser obter também o perdão dos veniais, é preciso que o arrependimento se estenda também a estes.
Prática. Para termos dor dos pecados, precisamos fazer duas coisas: a) pedi-la a Deus com a oração. A dor sincera dos pecados é uma graça preciosa, que se obtém particularmente com a oração; — b) excitá-la em nós, considerando o grande mal que é o pecado, tal como o consideramos no ato de contrição; pois que, assim como se teme um perigo quando se conhece a sua gravidade; assim conhecer o pecado, saber o mal que ele é, leva necessariamente a detestá-lo. — Se, por fortuna vossa, vos confessais apenas de pecados veniais, excitai-vos à dor deles, considerando uma imagem do Coração de Jesus onde eles são representados pelos espinhos.
Exemplos. — A raiz da planta e a dor dos pecados. — Dizia um catequista aos seus meninos: “Observai uma árvore; distinguis nela três partes: a raiz, o tronco e os ramos. Ora, qual destas três é a parte vital, a que dá a vida a toda a árvore e que não se lhe pode tirar sem a fazer morrer? A raiz. Pode uma árvore viver sem raiz? Dizei o mesmo da penitência: das três partes que nela devem concorrer, contrição, confissão e satisfação, a mais necessária, a parte vital, numa palavra, a raiz, é a contrição.
Os ídolos de Cromado. — No tempo do Imperador Diocleciano, Cromácio, antigo Prefeito de Roma, era bastante atormentado pela gota. Sabendo que Tranquilo havia sido milagrosamente curado com o batismo, mandou chamar São Sebastião e São Policarpo, para que o curassem. São Sebastião lhe disse que, se queria curar-se, era necessário que cresse em Jesus Cristo, que recebesse o batismo e destruísse todos os ídolos que possuía. Cromácio consentiu, mas não teve melhoras. Com toda a franqueza, São Sebastião e São Policarpo lhe disseram que, ou ele não tinha fé verdadeira em Jesus Cristo, ou guardava escondido algum ídolo. Então Cromácio confessou que tinha num quarto um templozinho de cristal e que o tinha conservado por ser uma coisa de estimação e um ornamento da casa. Fizeram-lhe ver os dois santos que por isso mesmo Deus não lhe tinha concedido a cura. Cromácio destruiu também aquele templozinho e, apenas ele foi reduzido a estilhas, ficou livre do mal que o atormentava. — Semelhantemente, um só ídolo do pecado mortal, que não se destrua com verdadeira dor, é o bastante para impedir que seja restituída à alma a vida da graça.
Notas:
[1]. Mt 10,28.
[2]. Lc 12,5.
[3]. Jl 2,12-13.
[4]. Ez 18,30-31.
[5]. At 3,19.
[6]. Concílio Tridentino, De poenitentia, cap. 4.
Fonte: CATECISMO DA DOUTRINA CRISTÃ DE SÃO PIO X, Explicação do. PERARDI. Pe. José. Rio Grande da Serra: Realeza, 2024, pp. 605-608.
** Saiba mais sobre esta obra necessária e admirável da verdadeira doutrina cristã católica