Módulo 2: Dogmática 1 | A compreensão da Fé

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– FÉ, RAZÃO E θεολογία –
INICIAÇÃO À TEOLOGIA CLÁSSICA


Bem-vindo de volta, estudante. A compreensão dos conteúdos que vimos em nossos estudos até este ponto deverá já ter tornado claro ao estudante que a nossa Fé não pode ser simplesmente professada de um modo “mecânico”, automático e/ou inconsciente, como se fôssemos robôs; somos dotados de intelecto e de vontade própria. De fato, desprezaríamos a Luz de Deus se não nos esforçássemos em assimilar a Fé através dos nossos conceitos humanos, que são acessíveis à nossa compreensão naturalmente limitada. Sim, devemos fazê-lo. Com humildade, porém com santa avidez. Encerramos o volume anterior exortando às súplicas ao Espírito Santo nessa fundamental intenção.

O escandaloso desinteresse da maioria dos fiéis católicos pelas coisas da Sã Doutrina é de provocar, a um só tempo, compaixão e indignação. Via de regra nossos irmãos manifestam insaciável curiosidade por ninharias: fotos postadas nas redes sociais, astros de TV e cinema, jogos de futebol, o último escândalo político e outras coisas semelhantes. Piedade de nós, Senhor, porque, mesmo entre aqueles que direcionam essa curiosidade para assuntos relacionados ao campo da Religião, com o que exatamente se preocupam? Fofocas paroquiais, as atividades do padre-cantor ou do padre-estrela da vez, as supostas revelações do(a) último(a) suposto vidente que afirma ver Nossa Senhora, falsos milagres e falsas revelações…

Fascina o colorido esvoaçante das bolhas de sabão, mas nos encontram indiferentes as verdades por Deus reveladas para a salvação das nossas almas. Estaríamos nós, agora, simplesmente desinteressados da Sua Palavra? Ou nos contentaremos em apenas repeti-la futilmente, sem procurar entendê-la?

Analisemos por um instante as principais razões que levam os católicos comuns a se desinteressarem de compreender a Fé. Poderíamos classificá-las do seguinte modo:

1) Desinteresse puro e simples/imediatismo. As coisas do Alto são vistas como realidades que não nos dizem respeito no aqui e agora. E o imediatismo é uma marca dos tempos modernos: está bem evidente, por exemplo, nas atitudes do jovem rapaz que, em busca de um físico de super-herói da ficção e não obtendo resultados rapidíssimos na prática da musculação, recorre aos anabolizantes hormonais, mesmo
sabendo que são perigosos para a sua saúde a longo prazo e que trazem como efeito colateral uma longa lista de males, porque só se preocupa com o aqui-agora.

2) Falta de coragem ou de disposição. Pode parecer muito difícil – e portanto sem sentido –, procurar entender sobre aquilo que está tão além das nossas capacidades, de algo que extrapola tão completamente o nosso campo de visão, as coisas que podemos tocar e controlar. Surge o desânimo.

3) Medo. Pode parecer também assustador adquirir conhecimentos sobre as coisas do Alto, porque o católico comum, mesmo o mal formado, sabe que Deus é como um Senhor exigente, a Quem teremos que prestar contas de absolutamente tudo. Assim sendo, pensam alguns, quanto menos se souber, melhor. Desconsideram que a ignorância por opção lhes será imputada como pecado.


Cabe neste ponto citar o caso de uma senhora que confessou a este autor o fato de ter desistido de ser católica porque “não tinha vocação para sofredora”. Nascera em família católica “praticante” e frequentara a Igreja desde a infância, mas nunca se conformara com as pregações que (no seu tempo de moça) enfatizavam o sofrimento e a resignação. Convidada por uma amiga, foi assistir a um culto protestante.

Ficou maravilhada com o enfoque totalmente diferente da pregação do “pastor” em sua “‘teologia’ da prosperidade”. Disseram-lhe que os membros mais fiéis daquela igreja-empresa seriam ricamente abençoados. Que pagar o dízimo rigorosamente e fazer muitas ofertas resultaria em abundantes recompensas do Céu, não para a vida eterna, mas já aqui, neste mundo, já agora, e inclusive financeiramente. Principalmente financeiramente. Empolgou-se. Converteu-se. Doou ao “pastor” tudo o que podia e também o que não podia, esperando receber em dobro. Afinal, tratava-se de um negócio imperdível. “Deus nunca deixará sofrer um filho…”, berrava o pregador em todo culto: “Dê o que tem agora e fique rico depois!”…

Ilusão. Ela nunca ficou rica, só cada vez mais pobre, e depois de tudo ainda precisou ouvir que a culpa era dela, que não tinha fé suficiente. Desistiu. Nesse ponto, sentia-se vazia por dentro, e até tentou procurar outras “igrejas” do mesmo tipo, apenas para descobrir que, no fim, eram todas mais ou menos iguais. Desorientada, cansou-se. Ainda queria crer em Deus, queria buscá-Lo e se sentir próxima d’Ele,
porque sentia que algo lhe faltava, mas já não sabia o que fazer. Voltar a ser católica, então, estava fora de questão: preconceitos demais já lhe haviam sido incutidos. Por fim, perdeu de vez a fé e tornou-se uma espécie de agnóstica confusa e depressiva.

Que se pode aprender com o caso que acabamos de expor? Muito: nem a vida do fiel é feita só de dores e nem é possível viver um Paraíso de delícias neste mundo, mas uma coisa é certa: não há melhor modo de viver do que em comunhão com Deus, seja na alegria ou no sofrimento, nas vitórias e nas dificuldades.

Consta que São Josemaria Escrivá, três meses antes de morrer, fez um rápido balanço de toda a sua vida, e resumiu assim:

– Um olhar para trás… Um panorama imenso: tantas dores, tantas alegrias. E agora tudo alegrias, tudo alegrias… Porque temos a experiência de que a dor é o martelar do Artista, que quer fazer de cada um, dessa massa informe que nós somos, um Crucifixo, um Cristo, o alter Christus [um ‘outro Cristo’] que
temos de ser.[1]


Essa visão essencialmente cristã foi o que lhe inspirou sempre a pregação sobre a dor, baseada na sua própria experiência de alma que amava a Deus antes de todas as coisas:


– Não te queixes, se sofres. Lapida-se a pedra que se estima, que tem valor. Dói–te? Deixa-te lapidar, com agradecimento, porque Deus te tomou nas suas Mãos como um diamante… Não se trabalha assim um pedregulho vulgar.[2]


Deus sempre nos faz bem por meio da Cruz, seja qual for, quando nós o deixamos fazer. Assim como nos salvou pela Cruz, assim também nos aperfeiçoa e nos santifica por meio da Cruz. Não exclusivamente mediante a Cruz, é certo: também nos santificam as muitas alegrias que temos nesta vida, os trabalhos que amamos, os carinhos que nos enriquecem, o convívio com as pessoas que nos são caras, as boas coisas das quais desfrutamos, oferecendo tudo a Deus… – Mas certamente a Cruz estará sempre presente neste vale de lágrimas. Portanto, deveríamos abraçá-la, persegui-la assim como, na natureza, um predador faminto persegue sua presa, sem desviarmos dela o olhar, nem por um segundo, e depois de alcançá-la, conhecê-la tão bem quanto possível, para nela nos aprofundarmos ao máximo. Se assim fizermos, garantem Nosso Senhor e sua Igreja, a Verdade, longe de nos mortificar ou tornar inerte a nossa inteligência, vai viver em nós, vai nos abrir a consciência e a compreensão, vai nos tornar sábios como nunca seríamos sequer capazes de supor que seria possível.

Quando os Reis Magos chegaram a Jerusalém anunciando o Nascimento do Messias, ninguém se preocupou em averiguar o fato – exceto Herodes, para eliminar aquele que julgava um possível rival. A mesma indiferença, da parte de uns, e o mesmo ódio, da parte de outros, parece animar hoje os corações dos adeptos da “religião sem Deus” dos agnósticos e dos ateus. Será também, fiel católico, que o mesmo torpor paralisa o seu coração e o seu espírito?

Cabe a uma instrução religiosa bem feita despertar o interesse pela Revelação ou Palavra de Deus. Por outro lado, qualquer instrução deve se adaptar ao desenvolvimento intelectual do discente, ao seu grau de adiantamento cultural. Se já temos no Brasil bons livros e canais de estudo pela internet, especialmente de nível primário e intermediário, faltam ainda trabalhos catequéticos mais alentados, destinados aos adultos já esclarecidos (é exatamente o que procuramos fazer aqui).

Por essa carência, há espíritos cultos, dos que permaneceram fiéis à Religião da sua infância e adolescência, que sentem um penoso desequilíbrio entre o saber secular e o sagrado que desejam, mas que muitas vezes não vai além do catecismo. Foi pelo bem destes que nasceu o nosso anseio de prestar auxílio, com o nosso website, e agora com nossos Cursos, oferecendo-lhes formação teológica bem fundamentada.

Já apresentamos em nosso Apêndice introdutório os rudimentos da resposta à pergunta: “O que é Teologia?”. Vimos com que magistral simplicidade respondeu Santo. Anselmo: “Fides quarens intellectum”: a Fé em busca da compreensão (de si mesma). Logo depois analisamos como e porque a Fé é absolutamente necessária nesse processo de compreensão teológica da realidade. Essa resposta inicial, todavia, suscita duas novas perguntas: O que é a Fé? O que é a compreensão da Fé? São perguntas a se responder na sequência destes estudos.

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Notas:

[1] Apud FAUS, Francisco. A Sabedoria da Cruz, São Paulo: Quadrante, 2001, disp. em:
https://www.ofielcatolico.com.br/2001/07/reflexoes-sobre-as-razoes-do-sofrimento.html
Acesso 18/5/2022.

[2] Ibidem.

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Este não é um espaço de “debates” e nem para disputas religiosas que têm como motivação e resultado a insuflação das vaidades. Ao contrário, conscientes das nossas limitações, buscamos com humildade oferecer respostas católicas àqueles sinceramente interessados em aprender. Para tanto, somos associação leiga assistida por santos sacerdotes e composta por profissionais de comunicação, professores, autores e pesquisadores. Aos interessados em batalhas de egos, advertimos: não percam precioso tempo (que pode ser investido nos estudos, na oração e na prática da caridade) redigindo provocações e desafios infantis, pois não serão publicados.

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A BÍBLIA CONFIRMA A SANTA IGREJA

A BÍBLIA COMO “ÚNICA REGRA” É HERESIA:
 
“Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação particular.”
(2 Pedro 1,20)
 
“Escrevo (a Bíblia) para que saibas como comportar-te na Igreja, que é a Casa do Deus Vivo, a coluna e o fundamento da Verdade.”
(1Timóteo 3,15)
 
“…Vós examinais as Escrituras, julgando ter nelas a vida eterna. Pois são elas que testemunham de Mim, e vós não quereis vir a Mim, para terdes a vida.”
(João 5,39-40)
 

“Porque já é manifesto que vós (a Igreja) sois a Carta de Cristo, ministrada por nós (Apóstolos), e escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração (…); o qual nos fez também capazes de ser ministros de um Novo Testamento, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.”
(2Cor 3,3.6)

A IGREJA SEMPRE OBSERVOU A TRADIÇÃO APOSTÓLICA
 

“Em Nome de nosso Senhor Jesus Cristo, apartai-vos de todo irmão que não anda segundo a Tradição que de nós recebeu.”
(2 Tessalonicenses 3,6)

“Então, irmãos, estai firmes e guardai a Tradição que vos foi ensinada, seja por palavra (Tradição), seja por epístola nossa (Bíblia). ”
(2 Tessalonicenses 2, 15)
 
JESUS CRISTO INSTITUIU O PAPADO
 

“Tu és Pedra, e sobre essa Pedra edifico a minha Igreja (…). E eu te darei as Chaves do Reino dos Céus; e tudo o que ligares na Terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na Terra será desligado nos Céus.”
(Mateus 16, 18)

“(Pedro,) apascenta o meu rebanho.”
(João 21,15-17)

“Irmãos, sabeis que há muito tempo Deus me escolheu dentre vós (Apóstolos), para que da minha boca os pagãos ouvissem a Palavra do Evangelho.”
– S. Pedro Apóstolo, primeiro Papa da Igreja de Cristo (Atos dos Apóstolos 15, 7)
 
“Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça. E tu, confirma os teus irmãos.”
– Jesus Cristo a S. Pedro (Lucas 22, 31-32)
 
A IGREJA SEMPRE VENEROU MARIA COMO MÃE DE DEUS
 

“Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe do Senhor? (Mãe do Senhor = Mãe de Deus, pois Jesus é Deus)”
O Espírito Santo pela boca de Isabel à Virgem Maria (Lucas 1,43)

“De hoje em diante, todas as gerações me proclamarão Bem-aventurada!”
– Santíssima Virgem Maria, Mãe de Nosso Senhor
(Lucas 1, 48)

NÃO HÁ VÁRIAS IGREJAS E SIM UMA SÓ
 

“Há um só Senhor, uma só Fé, um só Batismo”
(Efésios 4,5)

“Ainda que nós ou um anjo baixado do Céu vos anuncie um evangelho diferente do nosso (Apóstolos), que seja anátema.”
(Gálatas 1, 8)

NÃO HÁ SALVAÇÃO SEM A EUCARISTIA
 

“Em Verdade vos digo: se não comerdes da Carne e do Sangue do Filho do homem, não tereis a Vida em vós mesmos.”
(João 6, 56)

“Minha Carne é verdadeiramente comida, e o meu Sangue é verdadeiramente bebida.”
(João 6, 55)
 
“O Cálice que tomamos não é a Comunhão com o Sangue de Cristo? O Pão que partimos não é a Comunhão com o Corpo de Cristo?”
(1ª aos Coríntios 10, 16)
 
A IGREJA SEMPRE CREU NA INTECESSÃO DOS SANTOS, QUE ROGAM POR NÓS NO CÉU
 

“E a fumaça do incenso subiu com as orações dos santos, da mão do anjo, diante de Deus.”
(Apocalipse 8, 4)

“Aqui (no Céu) está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os Mandamentos de Deus e a Fé em Jesus.”
(Apocalipse 14, 12)
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