Módulo 4: Ascética e Mística 1 | Seu caminho e seus estágios

Sobre a conversão

Quem se converte, quem retorna a Deus e começa uma vida nova, deve assumir como práticas diárias e como parte integrante da sua rotina (tanto quanto o alimentar-se e o vestir-se):

1) Fazer penitência pelos seus pecados. Há muitas formas de fazê-lo, e muitos católicos ainda se assustam ao ouvir essa palavra. Não se trata aqui, necessariamente, de usar o cilício ou submeter-se a pesados jejuns de dia inteiro, nem sequer de privar-se dos poucos e pequenos prazeres que, muitas vezes, tornam suportável uma vida já difícil. Fazer penitência implica, essencialmente, duas atitudes:

a) um gesto que se apresenta diante de Deus como “prova” do arrependimento pelas infidelidades e pecados cometidos e do desejo sincero de mudança de vida. Há muitas maneiras válidas e frutuosas de se fazer penitência; apenas rezar o Terço ou uma Ladainha, para alguns, pode servir muito bem; reservar um dia da semana para privar-se do consumo da carne (além das sextas-feiras, em que isso já e obrigatório[1]), ou do café, ou dos doces, ou de uma das refeições do dia, ou ainda empreender uma pequena peregrinação, indo a pé até uma igreja que se localize a alguns quilômetros de distância, para prostrar-se diante do Sacrário, são bons exemplos;

b) um meio pelo qual se busca o crescimento na vida de Fé, a purificação e o fortalecimento da alma pela mortificação dos sentidos físicos, os quais muitas vezes nos prendem aos velhos vícios que nos afastam de Deus.


2) Abjurar real, concreta e totalmente das falsidades em que até então acreditava, e abandonar de vez todas as más práticas às quais um dia se entregou. O verdadeiro convertido se reconhece e sente-se realmente como uma outra pessoa para com Deus; essa realidade de vida, que é indissociável da vida cristã, foi divinamente descrita nas belíssimas palavras da Epístola aos Efésios:

Renunciai à vida passada, despojai-vos do homem velho, corrompido pelas concupiscências enganadoras. Renovai sem cessar o sentimento da vossa alma, e revesti-vos do homem novo, criado à imagem de Deus, em verdadeira justiça e santidade. Por isso, renunciai à mentira. Fale cada um a seu próximo a verdade, pois somos membros uns dos outros. Mesmo quando estiverdes furiosos, não pequeis. Não se ponha o sol sobre o vosso ressentimento. Não deis lugar ao demônio. Quem era ladrão não torne a roubar, antes, trabalhe seriamente por realizar o bem com as suas próprias mãos, para ter com que socorrer os necessitados. Nenhuma palavra má saia da vossa boca, mas só a que for útil para a edificação, sempre que for possível, e benfazeja aos que ouvem. Não contristeis o Espírito Santo de Deus, com o qual estais selados para o dia da Redenção. Toda amargura, ira, indigna­ção, gritaria e calúnia sejam desterradas do meio de vós, bem como toda malícia. Antes, sede uns com os outros bondosos e compassivos. Perdoai-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou, em Cristo.
(Ef 4 22,32)


3) Observâncias das boas práticas religiosas, como o tempo diário de oração e as pausas regulares para meditação/contemplação.

4) Se possível – e isso é algo altamente desejável, mas que pode ser muito difícil em nossos tempos, em muitos casos – pôr-se sob a obediência de um bom diretor espiritual.

É muito comum que o convertido – e há recém-convertidos também entre aqueles que há anos já “frequentavam” a Igreja, apresentando-se como católicos – experimente intensamente os primeiros fervores de sua conversão, seja amparado sobrenaturalmente em tudo o que se refere ao serviço de Deus, com consolações sensíveis na oração, com uma grande alegria na recepção dos Sacramentos e até com um novo gosto pelas penitências e pela humildade, com uma facilidade para a meditação, e às vezes também por uma cessação – que infelizmente, na maioria dos casos, é parcial –, das tentações. Esses primeiros fervores podem durar semanas ou meses, ou um ano ou mesmo dois, mas, depois disso, essa etapa estará concluída[2].

Um corresponderá mais fielmente a esses auxílios, outro corresponderá menos, mas importa saber que tais fervores têm suas características próprias, suas peculiaridades: têm um feitio particular e necessitam de uma direção especial. Mas, então, cessam e se colocam fora do nosso alcance, para o desespero de muitos. Iremos encontrá-los de novo no grande dia do Juízo, e não antes. Mas onde nos deixaram eles? No começo de uma fase da vida espiritual, uma época muito penosa e crítica. O mero desaparecimento do fervor, que não foi senão um favor temporário, deixa-nos submersos em um desagradável sentimento de tibieza.

As características trevosas desse estado nos levam a crer que estamos mais abandonados a nós mesmos do que antes. A Graça parece que nos ajuda menos. O natural volta, quando o fervor que o dominava nos deixa, e vibra com força espantosa. Sentimos que o nosso apoio agora está no brio e na honestidade dos propósitos da vontade; sentimo-nos menos protegidos pelos vários recursos da vida sobrenatural.

As orações tornam-se mais áridas. O terreno que cavamos é mais duro e pedregoso. O trabalho perde o encanto à medida em que se torna mais penoso. A perfeição nos parece menos fácil e, a penitência, quase insuportável.

É chegado, então, o momento da coragem; essa é a hora da prova do nosso valor real. Começamos a viajar, por assim dizer, nas regiões centrais da vida espiritual, e estas são, na sua maior parte, regiões áridas, como de deserto. É aqui que tantos voltam atrás, sentindo-se equivocadamente rejeitados por Deus, como Santos em potencial mas que não deram certo, almas de vocações inutilizadas.

Esteja claro, todavia, que o fazer conhecer essas dificuldades não tem por finalidade desanimar alguém; ao contrário, o que se procura em uma formação como esta é preparar bem as almas as quais, sabendo de antemão as dificuldades que a aguardam, estarão mais prontas e mais aptas a lidar com elas para superá-las. Continuaremos a aprofundar a jornada da vida interior, essa grande aventura da alma que crê, cada vez mais detalhadamente e visando as suas resoluções práticas. Continuemos, pois, juntos.


Notas:

[1] O cânon 1251 do Código de Direito Canônico de 1983 dispõe que é obrigatória a “abstinência de carne ou de outro alimento (…) em todas as sextas-feiras do ano, a não ser que coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades”. Antes disso, o Papa Inocente III (séc. XIII), decretara que é pecado grave consumir carne às sextas e, no século XVII, o Papa Alexandre VII decretou anátema quem dissesse que isso não é pecado grave.

[2] Um rapaz ainda jovem, meu dirigido, confessou-me em certa ocasião que antes de sua conversão havia adquirido um fortíssimo vício no pecaminoso consumo de pornografia e na masturbação. Converteu-se e, logo depois, esse vício que lhe parecia invencível, contra o qual muitas vezes tentara inutilmente lutar, esvaiu-se dele, perdeu sua força, deixou-o, como que por milagre. Ele se viu então desfrutando de uma maravilhosa liberdade, tendo poder sobre seu próprio corpo e seus apetites, de tal modo que teria, antes, considerado impossível. Esse estado privilegiado durou para ele um longo tempo, mais de ano. Depois disso, porém, as velhas tentações retornaram, e a partir daí ele precisou voltar a lutar com todas as suas forças, suplicando constantemente pelo amparo divino, para que não voltasse a se tornar novamente escravo dos mesmos vícios. A partir daí, só com oração e penitência é que podia se manter em estado de graça (N. do E.).

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A BÍBLIA CONFIRMA A SANTA IGREJA

A BÍBLIA COMO “ÚNICA REGRA” É HERESIA:
 
“Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação particular.”
(2 Pedro 1,20)
 
“Escrevo (a Bíblia) para que saibas como comportar-te na Igreja, que é a Casa do Deus Vivo, a coluna e o fundamento da Verdade.”
(1Timóteo 3,15)
 
“…Vós examinais as Escrituras, julgando ter nelas a vida eterna. Pois são elas que testemunham de Mim, e vós não quereis vir a Mim, para terdes a vida.”
(João 5,39-40)
 

“Porque já é manifesto que vós (a Igreja) sois a Carta de Cristo, ministrada por nós (Apóstolos), e escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração (…); o qual nos fez também capazes de ser ministros de um Novo Testamento, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.”
(2Cor 3,3.6)

A IGREJA SEMPRE OBSERVOU A TRADIÇÃO APOSTÓLICA
 

“Em Nome de nosso Senhor Jesus Cristo, apartai-vos de todo irmão que não anda segundo a Tradição que de nós recebeu.”
(2 Tessalonicenses 3,6)

“Então, irmãos, estai firmes e guardai a Tradição que vos foi ensinada, seja por palavra (Tradição), seja por epístola nossa (Bíblia). ”
(2 Tessalonicenses 2, 15)
 
JESUS CRISTO INSTITUIU O PAPADO
 

“Tu és Pedra, e sobre essa Pedra edifico a minha Igreja (…). E eu te darei as Chaves do Reino dos Céus; e tudo o que ligares na Terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na Terra será desligado nos Céus.”
(Mateus 16, 18)

“(Pedro,) apascenta o meu rebanho.”
(João 21,15-17)

“Irmãos, sabeis que há muito tempo Deus me escolheu dentre vós (Apóstolos), para que da minha boca os pagãos ouvissem a Palavra do Evangelho.”
– S. Pedro Apóstolo, primeiro Papa da Igreja de Cristo (Atos dos Apóstolos 15, 7)
 
“Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça. E tu, confirma os teus irmãos.”
– Jesus Cristo a S. Pedro (Lucas 22, 31-32)
 
A IGREJA SEMPRE VENEROU MARIA COMO MÃE DE DEUS
 

“Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe do Senhor? (Mãe do Senhor = Mãe de Deus, pois Jesus é Deus)”
O Espírito Santo pela boca de Isabel à Virgem Maria (Lucas 1,43)

“De hoje em diante, todas as gerações me proclamarão Bem-aventurada!”
– Santíssima Virgem Maria, Mãe de Nosso Senhor
(Lucas 1, 48)

NÃO HÁ VÁRIAS IGREJAS E SIM UMA SÓ
 

“Há um só Senhor, uma só Fé, um só Batismo”
(Efésios 4,5)

“Ainda que nós ou um anjo baixado do Céu vos anuncie um evangelho diferente do nosso (Apóstolos), que seja anátema.”
(Gálatas 1, 8)

NÃO HÁ SALVAÇÃO SEM A EUCARISTIA
 

“Em Verdade vos digo: se não comerdes da Carne e do Sangue do Filho do homem, não tereis a Vida em vós mesmos.”
(João 6, 56)

“Minha Carne é verdadeiramente comida, e o meu Sangue é verdadeiramente bebida.”
(João 6, 55)
 
“O Cálice que tomamos não é a Comunhão com o Sangue de Cristo? O Pão que partimos não é a Comunhão com o Corpo de Cristo?”
(1ª aos Coríntios 10, 16)
 
A IGREJA SEMPRE CREU NA INTECESSÃO DOS SANTOS, QUE ROGAM POR NÓS NO CÉU
 

“E a fumaça do incenso subiu com as orações dos santos, da mão do anjo, diante de Deus.”
(Apocalipse 8, 4)

“Aqui (no Céu) está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os Mandamentos de Deus e a Fé em Jesus.”
(Apocalipse 14, 12)
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