Módulo 8: História da Igreja 2 | Evidências da Ressurreição de Cristo


Encerramos a lição anterior dizendo que, pela análise das práticas dos primeiros cristãos, um novo grupo religioso que necessitava de aceitação social e credibilidade para difundir a sua mensagem, sua atitude se revela totalmente ilógica, porque contraproducente, na medida em que eram extremamente exclusivistas em tudo o que tange ao culto. Mas a partir do ponto de vista histórico, esses fatos se configuram em evidências da Ressurreição de Cristo. É o que veremos na agora. Em tópicos:

O dia de propiciação/adoração/ação de graças/impetração mudou:

A partir da Ressurreição, os fiéis passam a se reunir aos domingos e não mais no sábado (shabat) judaico; ainda que esse abandono do sábado não tenha sido imediato, todavia foi de imediato que os cristãos passaram a se reunir no primeiro dia da semana. O domingo torna-se o Dies Domini – Dia do Senhor – porque Jesus ressuscitou no domingo, dando início aos novos tempos e à Nova Aliança, em que tudo se faz novo: a partir desse evento, passaram-se as coisas antigas e tudo se fez novo (2Cor 5,17).

Uma mudança dessa magnitude (para um povo profundamente devoto da observância do sábado) só poderia se operar a partir de um acontecimento realmente muitíssimo importante. Ora, Deus mesmo ordenara a Moisés a guarda do sábado no AT; somente Deus poderia determinar uma mudança dessa ordem expressa, e para que aquele povo aceitasse que Deus assim determinara, seria realmente preciso um fato decisivo e excepcionalmente impactante.


As primeiras testemunhas da Ressurreição são mulheres humildes

O testemunho de mulheres não era aceito como prova diante de um tribunal judaico, naquela sociedade profundamente patriarcal. Se os propagadores do Cristianismo – e, posteriormente, os autores dos santos Evangelhos –, quisessem convencer alguém da veracidade do seu testemunho com base em depoimentos confiáveis, sem se importar com a veracidade dos fatos ou com a fidelidade à historicidade da coisa, evidentemente teriam citado homens, especialmente homens que ocupassem posições destacadas, pois desse modo teriam maiores chances de serem bem aceitos naquela sociedade.

Mas os primeiros cristãos não esconderam que as primeiras testemunhas da Ressurreição foram mulheres – e além disso mulheres humildes, de pouco destaque social –, e isso implica uma evidência bastante considerável quanto à autenticidade do que se propõe.


Para gregos e romanos, falar em ressurreição do corpo soava como um completo absurdo

Tanto gregos quanto romanos desprezavam a corporeidade. Tal desprezo aparece, em muitas fontes, por exemplo no relato registrado sobre a reação dos atenienses ao sermão de São Paulo Apóstolo sobre a Ressurreição de Jesus Cristo: “Quando ouviram falar de ressurreição de mortos, uns zombavam e outros disseram: ‘A respeito disso te ouviremos alguma outra vez’” (At 17,32). Sou houvesse a intenção de se elaborar uma nova doutrina meramente inventada, para que tivesse chance de ser bem aceita naquela realidade, seria muito mais conveniente falar na eternidade da alma, não na ressurreição dos corpos, uma doutrina que ainda hoje é, no geral, de difícil aceitação e/ou compreensão.


Modificação da crença judaica da ressurreição somente no juízo final.

Se gregos e romanos não estavam interessados em ressurreição, alguns judeus sustentavam a crença na ressurreição. Entretanto, afirmar que alguém havia ressuscitado antes do grande dia do Juízo, como faziam os cristãos a respeito de seu Cristo, não fazia sentido dentro da estrutura do pensamento judaico ortodoxo. Mais uma evidência de que se referiam a um evento real e não a uma nova doutrina artificial e magistralmente elaborada para convencer as massas.


Monoteísmo judaico e Monoteísmo Trinitário cristão

Outra modificação de enorme importância e que seria humanamente impensável está no tributo de adoração que passa a ser prestado ao próprio Jesus, e isso a partir de quando? Após a sua Ressurreição. Não por acaso, é justamente no episódio da confirmação deste evento por São Tomé, até então incrédulo, que os Evangelhos apresentam uma das mais explícitas afirmações da divindade de Cristo Jesus: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20,19-31). Sabemos bem que, ao longo da História, muitos judeus foram condenados e mortos por se recusarem a adorar reis e imagens. Era inconcebível para o monoteísmo e a até para a própria identidade judaica a ideia de que Deus Todo-Poderoso se fizesse homem, quanto mais para entregar-se em sacrifício pela salvação dos pecadores. Todavia, o grupo dos cristãos, em esmagadora maioria judeus adeptos desse mesmo monoteísmo judaico, passaram a adorar Jesus como Deus-Filho, aceitando sem reservas as afirmações que o próprio fizera de sua Natureza divina: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30); “Quem me vê a mim, vê o Pai” (Jo 14,9). O culto à Pessoa de Jesus – Pessoa divina –, dificilmente poderia ser racionalmente explicado por outro fato senão algum realmente impactante, um evento divisor de águas e impressionante o suficiente para provocar essa mudança radical de paradigmas, algo que causasse uma impressão tremenda, como seria o caso da Ressurreição.


A consolidação da Igreja

O primeiro século testemunhou o aparecimento de diversos líderes de movimentos messiânicos, executados por sedição, e que houve em todos esses casos foi a dispersão dos seus seguidores. Em nenhum desses casos há qualquer registro de mestres ressuscitando dentre os mortos. A razão para tal é bastante simples: como vimos, os judeus esperavam a ressurreição coletiva, a qual ocorreria somente no fim dos tempos. A sólida persistência do pequeno grupo que se dispersara logo após a prisão e morte de Jesus, e a impressionante transformação que se seguiu a isso, exigem algum fato que os explique. A Ressurreição cabe como resposta. Como uma luva.


Total contradição

A natureza absolutamente única e radicalmente inovadora do anúncio da Ressurreição era problemática demais para que pudesse ter sido simplesmente inventada. Sair por aí a bradar que o Galileu havia se levantado dos mortos não seria uma boa opção propagandística. A não ser que fosse tudo verdade.

Em qualquer caso, a Ressurreição continuará para nós como um mistério, que contemplamos mediante um olhar de Fé, como fazemos na contemplação do santo Rosário. Como em tudo que concerne ao estudo da Teologia, porém, isso não implica desconsiderar evidências tão fortes da sua historicidade.

Sim, os Seguidores do Caminho acreditavam em Jesus, o Messias, Jesus, o Filho de Deus, Jesus, o Salvador dos homens, Jesus-Senhor e Deus, não só apesar do atroz desfecho do ministério do seu Líder, mas – contradição das contradições –, principalmente por causa disso. Não por mero apego sentimental, mas porque tinham provas da sua maravilhosa autenticidade.

Tinham ainda certas garantias sobrenaturais, citadas em todos os Livros escritos pela primeira geração que viriam a compor a Bíblia sagrada– os Evangelhos, os Atos e as Epístolas –, sublinhando sua importância e mostrando que sobre estas repousava a verdadeira Fé.

A primeira fora dada pelo próprio Jesus, à véspera de sua Morte, na noite da Quinta-feira Santa. Durante a última Ceia, partira o pão, tomara de um cálice de vinho e dera graças, dizendo: “Este é o meu corpo, entregue por vós (…). Este cálice é o Novo Testamento em meu Sangue, derramado por vós“ (Lc 22 ,19s). O gesto sintetizava numa fórmula sacramental um ensinamento sobre o qual Ele insistira muitas vezes. Quatro vezes ao menos, advertira do drama que havia de pôr fim à sua missão sobre a Terra, frisando a necessidade da sua Morte e o seu sentido sacrificial. Em Cafarnaum, no admirável discurso sobre o Pão da Vida, tinha precisado antecipadamente esta doutrina: “Eu sou o Pão vivo descido do Céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre. E o pão que eu darei é a minha carne, para a salvação do mundo” (Jo 6,51).

Naquela ocasião, Jesus não fora compreendido. Estavam todos cegados pela falsa imagem de um Messias glorioso e predestinado à vitória, que traria prosperidade ao mundo. Os discípulos – compreensivelmente, devemos reconhecer, se somos humanos –, recusavam-se a acreditar na necessidade do Sacrifício. Mas, diante dos fatos que se desenrolaram depois, depois da implacavelmente transformadora experiência da Ressurreição, e uma vez transposto o momento da perturbação emocional, a Morte do Mestre assumia uma importância decisiva para a Fé.

Em primeiro lugar, a Morte provara de forma evidente suas profecias. Além disso, estabelecera entre Ele e os seus discípulos um laço que nada poderia quebrar, uma vez que era o laço de uma participação na sua Vida divina, conforme sua própria promessa. Por fim, como Ele também dissera, era o sinal de uma “nova Aliança”. Para os judeus crentes, familiarizados com os textos sagrados, era manifesto que o mistério da Aliança, desde o sacrifício de Abraão até o do Cordeiro Pascal, sempre estivera ligado à necessidade do sacrifício. E os discípulos puderam compreender, enfim, o verdadeiro alcance da Imolação consumada no Calvário. Assim como o povo de Israel, no correr dos séculos, tinha ido buscar a sua força na convicção inquebrantável da Antiga Aliança com Deus, assim os fiéis de Jesus Cristo iriam enfrentar a História apoiados na certeza de que a Morte do Mestre era o penhor da Nova e Eterna Aliança.

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A BÍBLIA CONFIRMA A SANTA IGREJA

A BÍBLIA COMO “ÚNICA REGRA” É HERESIA:
 
“Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação particular.”
(2 Pedro 1,20)
 
“Escrevo (a Bíblia) para que saibas como comportar-te na Igreja, que é a Casa do Deus Vivo, a coluna e o fundamento da Verdade.”
(1Timóteo 3,15)
 
“…Vós examinais as Escrituras, julgando ter nelas a vida eterna. Pois são elas que testemunham de Mim, e vós não quereis vir a Mim, para terdes a vida.”
(João 5,39-40)
 

“Porque já é manifesto que vós (a Igreja) sois a Carta de Cristo, ministrada por nós (Apóstolos), e escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração (…); o qual nos fez também capazes de ser ministros de um Novo Testamento, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.”
(2Cor 3,3.6)

A IGREJA SEMPRE OBSERVOU A TRADIÇÃO APOSTÓLICA
 

“Em Nome de nosso Senhor Jesus Cristo, apartai-vos de todo irmão que não anda segundo a Tradição que de nós recebeu.”
(2 Tessalonicenses 3,6)

“Então, irmãos, estai firmes e guardai a Tradição que vos foi ensinada, seja por palavra (Tradição), seja por epístola nossa (Bíblia). ”
(2 Tessalonicenses 2, 15)
 
JESUS CRISTO INSTITUIU O PAPADO
 

“Tu és Pedra, e sobre essa Pedra edifico a minha Igreja (…). E eu te darei as Chaves do Reino dos Céus; e tudo o que ligares na Terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na Terra será desligado nos Céus.”
(Mateus 16, 18)

“(Pedro,) apascenta o meu rebanho.”
(João 21,15-17)

“Irmãos, sabeis que há muito tempo Deus me escolheu dentre vós (Apóstolos), para que da minha boca os pagãos ouvissem a Palavra do Evangelho.”
– S. Pedro Apóstolo, primeiro Papa da Igreja de Cristo (Atos dos Apóstolos 15, 7)
 
“Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça. E tu, confirma os teus irmãos.”
– Jesus Cristo a S. Pedro (Lucas 22, 31-32)
 
A IGREJA SEMPRE VENEROU MARIA COMO MÃE DE DEUS
 

“Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe do Senhor? (Mãe do Senhor = Mãe de Deus, pois Jesus é Deus)”
O Espírito Santo pela boca de Isabel à Virgem Maria (Lucas 1,43)

“De hoje em diante, todas as gerações me proclamarão Bem-aventurada!”
– Santíssima Virgem Maria, Mãe de Nosso Senhor
(Lucas 1, 48)

NÃO HÁ VÁRIAS IGREJAS E SIM UMA SÓ
 

“Há um só Senhor, uma só Fé, um só Batismo”
(Efésios 4,5)

“Ainda que nós ou um anjo baixado do Céu vos anuncie um evangelho diferente do nosso (Apóstolos), que seja anátema.”
(Gálatas 1, 8)

NÃO HÁ SALVAÇÃO SEM A EUCARISTIA
 

“Em Verdade vos digo: se não comerdes da Carne e do Sangue do Filho do homem, não tereis a Vida em vós mesmos.”
(João 6, 56)

“Minha Carne é verdadeiramente comida, e o meu Sangue é verdadeiramente bebida.”
(João 6, 55)
 
“O Cálice que tomamos não é a Comunhão com o Sangue de Cristo? O Pão que partimos não é a Comunhão com o Corpo de Cristo?”
(1ª aos Coríntios 10, 16)
 
A IGREJA SEMPRE CREU NA INTECESSÃO DOS SANTOS, QUE ROGAM POR NÓS NO CÉU
 

“E a fumaça do incenso subiu com as orações dos santos, da mão do anjo, diante de Deus.”
(Apocalipse 8, 4)

“Aqui (no Céu) está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os Mandamentos de Deus e a Fé em Jesus.”
(Apocalipse 14, 12)
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