Por Pedro Erik Carneiro[1] e Henrique Sebastião
O PERONISMO QUE HÁ décadas domina a Argentina perdeu de forma avassaladora as eleições daquele país. O polêmico candidato vencedor, Javier Milei, chamou em rede nacional o seu compatriota papa Francisco de “comunista” e o acusou de se posicionar “ao lado dos ditadores”, além de tachá-lo como “o maligno na Terra a ocupar o Trono da Casa de Deus” e até como “um representante do capeta”. Apesar disso, está sendo noticiado que ele convidou Bergoglio (não papa Francisco) para cerimônia da posse presidencial. Segundo o o jornal “La Nación”, os dois já conversaram por telefone e trataram de assuntos como a pobreza e os planos do presidente eleito para a área social.
Sim, Milei é uma “figuraça”, como se diz por aí, e o que virá do seu governo é um mistério completo, ainda que alguns bem intencionados tenham ficado muito felizes com a sua eleição. Mas o ponto que queremos comentar e que aqui nos interessa é: as críticas pesadíssimas e os grossos xingamentos ao Papa – argentino –, não afetaram em absolutamente nada o resultado da eleição na Argentina, cuja população é de maioria católica. Uma indicação clara de que o povo argentino realmente despreza o Papa seu conterrâneo. Por que Francisco é tão impopular em sua terra natal?
É um fato que, durante o pontificado de Francisco, milhões de católicos na Argentina deixaram a Igreja[2], assim como também tem acontecido em várias partes do mundo. Essa decisão de abandonar o catolicismo deve ter ajudado no desprezo ao Papa, mas, por outro lado, é inegável que o estilo do seu pontificado e suas posições heterodoxas constituem a causa principal do esvaziamento dos templos. Ora o caso na Argentina é um dos piores no mundo em termos de abandono ao catolicismo, justamente agora, nestes tempos de um Papa argentino: não há como não associar as duas coisas.
Não será fácil para Milei, o povo está mais pobre e habituado com a mão pesada de um Estado inchado. Além disso, o país tem uma grande dívida externa, Milei já criticou a China e o Brasil de Lula, e os Estados Unidos são (des)governados por um homem senil de extrema-esquerda. Já a Europa não conta, é “café com leite” nas relações internacionais. Ele deve rezar pela volta de Trump.
Em todo caso, a eleição de Milei é histórica inclusive para a história milenar da Igreja.
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Em tempo: se a popularidade de Francisco na Argentina entre o laicato é baixa, entre altos dignatários da hierarquia eclesiástica também é dificultosa. O Arcebispo emérito de La Plata, Héctor Aguer, preparava um artigo quando soube da recente demissão do Bispo Strickland pelo mesmo Papa, e tornou público o texto que a imagem abaixo mostra.
[2] Doutor em Relações Internacionais, Doutorando em Filosofia, Mestre em Economia, editor da página “Thyself, o, Lord”.
[1] O Consejo Nacional de Investigaciones Científicas y Técnicas de la República Argentina apontou que a proporção de católicos na população do país caiu de 76,5% em 2008 para 62,9% em 2008 para 62,9% em 2019 (conf.: https://veja.abril.com.br/religiao/argentina-cai-o-numero-de-catolicos-no-pais-de-francisco | acesso 22/11/2023).
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