Atualmente, a Igreja Católica adota a forma JAVÉ, considerada mais fiel e correta segundo os estudos linguísticos mais avançados, por diversas razões, as quais veremos aqui. Em algumas obras católicas antigas, porém, encontra-se a forma JEOVÁ. Por que isso ocorre? É um erro? Já tratamos sobre o sagrado Nome de Deus em outra oportunidade, em nosso site aberto (leia aqui). Porém, dadas certas controvérsias que sempre surgem e voltam à tona, quisemos acrescentar ainda mais informações a respeito do mesmo tema, que facilitam a compreensão desse assunto que é amplo e complexo. Segue.
Por José Manuel Raccamarich para a revista Vox Veritas (n. 3)
Tradução: Carlos Martins Nabeto
Para nós, seres humanos, foi necessário desde o início estabelecer uma relação com o que nos rodeia, com o que cremos e com o que somos. É por isso que dentro da nossa existência foi inevitável dar nome a tudo aquilo com o que nos relacionávamos. Desde a Criação, por vontade divina, foi estabelecido que o homem desse nome a todos os animais criados para que não estivesse sozinho (Gn 2,19-20).
Em nossos dias, contam-se grande quantidade de religiões espalhadas em diversos partes do mundo, cada qual com seus próprios deuses, e cada um destes com nome próprio. Mas quando Deus, o Único e Verdadeiro, começou a se revelar aos homens, após a queda dos nossos primeiros pais Adão e Eva, foi necessário conhecer o seu nome:
– “Set também teve um filho e lhe colocou o nome de Enós, que foi o primeiro a invocar o nome de Deus.” (Gn 4,26).
Contudo, o Gênesis não nos revela qual nome Enós invocou. Mas Deus revelou o seu nome quando Moisés lhe perguntou. Deus respondeu: “Eu Sou Aquele que Sou” (Êx 3,14).
– “Eu sou YHWH. Eu apareci a Abraão, Isaac e Jacó como Deus Todo-Poderoso; e a nenhum deles revelei o meu nome: YHWH.” (Êx 6,2-3)
Pois bem, o que significam estas quatro letras: YHWH? Este é o chamado “Tetragrama”, termo que provém do grego “tetra-grammaton” e que significa, simplesmente, “quatro letras”. Para compreendermos se o Nome de Deus é JeoVá ou YaHVé/Iavé/Javé, é necessário que nos ambientemos no contexto histórico da pergunta “por que há dois nomes e qual foi a sua origem?”.
O rei Nabucodonosor II conquistou Jerusalém no ano 587 a.C. e suprimiu a independência dos hebreus (os judeus antigos); também o portentoso e belíssimo Templo de Salomão, orgulho nacional dos hebreus, foi totalmente arrasado. O rei levou em cativeiro toda Jerusalém, todos os príncipes e todos os homens valentes (cerca de 10.000 cativos), e todos os oficiais e ferreiros. Não restou ninguém, exceto os pobres do povo da terra (cf. 2Rs 24,14). Mas o cativeiro afetou apenas as classes altas hebreias? Sim, era essa a ideia: os vencedores tinham interesse em impedir que ressurgisse ali um poder político forte e, para isso, levaram à força a classe dirigente, capaz de liderar uma revolta.
Mas o que tem a ver o Cativeiro da Babilônia com o nome de Deus? Após o Cativeiro da Babilônia, levando em conta estritamente o texto de Êxodo 20,7, ficou proibido aos judeus pronunciar o Nome de Deus, para que não fosse profanado pelos pagãos. Assim, quando faziam a leitura da Lei e dos Profetas nas sinagogas, ao encontrarem o Tetragrama YHWH, faziam uma pausa silenciosa e depois prosseguiam com a leitura.
Com o transcorrer dos anos e das gerações, o Nome de Deus deixou de ser pronunciado e já ninguém mais sabia qual era a pronúncia correta. De todo modo, a tradição das sinagogas, de fazer uma pausa e prosseguir a leitura ao encontrar a palavra YHWH, continuou até os tempos de Jesus. Não vemos Jesus dizendo em momento nenhum no Evangelho qual era o nome de Deus.
Então, com o passar do tempo, prosseguiu-se com a proibição?
Algo interessante que ocorreu antes do Cativeiro da Babilônia foi uma separação que se deu entre os judeus: os judeus samaritanos, ao considerarem os demais povos e Jerusalém pouco ortodoxos e impuros em relação à Lei, provocaram o rompimento das relações antes do ano 597 a.C. Interessante nisso é que, ao cortar relações com os demais judeus, não se aplicou a eles a proibição de se pronunciar o Nome de Deus. E eles pronunciavam “Yahvé” e continuaram pronunciando assim por gerações… Até hoje dizem “YaHVé”, que escutamos “Javé”.
No séc. VII d.C., os mestres rabínicos da Escola de Tiberíades, chamados “massoretas”, decidiram colocar vogais nas palavras das Sagradas Escrituras (pois eram escritas sem vogais e cada vez mais aumentava a confusão sobre a pronúncia das palavras). Especificamente no tocante ao tetragrama YHWH, como nunca era pronunciado, ninguém sabia quais vogais se deveriam usar. Usaram, então, as vogais da palavra “Adonai” (a-o-a), que era lida em substituição ao Tetragrama: a letra “i” no fim de Adonai não foi contada porque, para os hebreus, trata-se de consoante e não de vogal; também mudaram o primeiro “a” para “e” por razões de fonética semítica (conforme o sistema massoreta, a consoante “Y”, primeira letra do Tetragrama, por ser consoante forte, não poderia ser seguida pela vogal “a”, por ser fraca, devendo assim ser mudada para a vogal “e”, que é uma vogal forte). Não obstante esse trabalho dos massoretas, o Nome YHWH continuou sendo substituído nas leituras pela palavra Adonai.
Então, o que os massoretas do século VII fizeram foi pronunciar o tetragrama como YaHVeH, valendo-se do hebraico antigo, para assimilar sua pronúncia ao hebraico Adonai (o Senhor). Se a tese da Escola Francesa de Línguas, do séc. XVIII, tiver razão ao afirmar que todo idioma vai se modificando e mudando pelo uso e pelo abuso, isso também ocorreu com o hebraico. Desse modo, encontramos hoje, em todas as Bíblias hebraicas, a pronúncia do tetragrama indicada como “YeHoVaH”, pelo uso e abuso do idioma através dos séculos.
Vejamos alguns nomes dados a Deus nas Sagradas Escrituras:
– Adonai: quer dizer “Senhor”; transcrito como “Kyrios” no grego;
– Elohim: quer dizer “Senhor Deus”;
– El: é um dos nomes mais antigos usados pelos israelitas, inclusive antes da redação do Êxodo, que foi o primeiro livro escrito da Bíblia. Este nome significa “Ser forte”, “o Supremo”, ou simplesmente “Deus”;
– El Shadai: quer dizer “o Altíssimo” ou “Todo poderoso”. Deus se apresentou com este nome diante dos patriarcas (Êxodo 6,2-3);
– Yahweh Shebaoth: quer dizer “Deus dos exércitos”. Não aparece na Lei judaica (Pentateuco), mas nos livros proféticos;
– Ganna: quer dizer “Deus zeloso”;
– El Hai: quer dizer “Deus vivente”.
Quanto ao “Aleluia”, o que significa? “Glorificado seja YaHVé” (HalalaYah). Se o nome de Deus fosse Jeová, então se pronunciaria “AleluYeh”, o que jamais ocorreu em nenhum escrito em hebraico, aramaico, nem foi traduzido para o grego, pois o grego traz “Aleluia” e não “Aleluie”, como teria que ser nesse caso (cf. Ap 19,1.4.6).
Não podemos saber, com certeza absoluta, qual é a pronúncia correta do Nome de Deus, mas sabemos que a pronúncia mais próxima do Nome de Deus é JAVÉ, de “YaHVé”.
– “E foi concedido a Jesus um Nome superior a todo Nome, para que no Nome do Senhor Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra e nos infernos, e que toda língua confesse que Jesus é o Senhor.”
(Fl 2,9-11).