A gloriosa beleza da Santa Missa: um vislumbre da plenitude do Céu

É COMUM OUVIRMOS DIZER, da parte dos reformistas da Igreja, que a Missa Tradicional tem muita pompa ou muito luxo, ou que tem muitas regras, e que Cristo não queria isso. É como se a Igreja tivesse se separado da vontade do Divino Mestre com o passar dos anos. Á primeira vista, aos desavisados, isso pode parecer fazer algum sentido; afinal, Jesus era simples, e os Apóstolos eram homens pobres e humildes, não? Vejamos isso melhor.

Jesus Cristo era um judeu, ou melhor, um judeu perfeito. Ora, os judeus tinham uma liturgia formal como parte do seu culto. O Cristo e o Pai são um só: aquele mesmo Pai que ordenou a Moisés que os sacerdotes deveriam usar ricos ornamentos, o mesmo Pai que deu instruções específicas do que deveria ser feito para cultuá-lo e do que deveria ser construído para abrigar os materiais relativos aos seu culto.

O rito romano tradicional fornece rubricas muito específicas para a Missa, do mesmo modo como Deus mesmo fez para com os sumos sacerdotes, no tempo do Antigo Testamento. Em relação às vestimentas, Ele ordenou que o sumo sacerdote usasse vestes bordadas, cravejadas de joias e com várias camadas, muito semelhantes aos paramentos do rito tridentino. Vejamos algumas regras, tiradas do capítulo 28 do Livro do Êxodo, em que Deus especifica o que o sacerdote deveria usar nas cerimônias do Templo:

O efod será feito de ouro, de púrpura violeta e escarlate, de carmesim e de linho fino retorcido, artisticamente tecidos. (v.6)

Farás um peitoral de julgamento artisticamente trabalhado, do mesmo tecido que o efod: ouro, púrpura violeta e escarlate, carmesim e linho fino retorcido. (v.15)

Farás também para o peitoral correntinhas de ouro puro, entrelaçadas em forma de cordões. Farás ainda para o peitoral dois anéis de ouro, que fixarás em suas extremidades. (v 22 – 23)

Farás o manto do efod inteiramente de púrpura violeta. (v.31)

Farás uma lâmina de ouro puro na qual gravarás, como num sinete, “Santidade ao Senhor”.  (v.36)


Isso aparenta muito luxo para você? Pense bem antes de responder, porque essas foram as ordens dadas diretamente pelo Senhor Deus, sobre o que o sacerdote vestiria no seu Templo…

Observando a Última Ceia, devemos relembrar que se tratou de uma coisa muito, mas muito diferente de uma simples refeição comunitária em que Cristo apenas participava; ao contrário, Ele a começou no contexto de uma cerimônia religiosa seriamente rubricizada: a Ceia Pascal. Ainda assim, não podemos esquecer que a Última Ceia, de fato, não é o nosso modelo ideal de liturgia. Se fosse, deveríamos restringir nossas Missas apenas aos homens e ordenar todos eles bispos antes dela acabar. Deveria ser restrita a apenas doze pessoas e ser realizada às escondidas. Mais ainda, deveríamos sacrificar o celebrante no dia seguinte…

Por último, vejamos mais um precedente divino para a liturgia, agora no Livro do Apocalipse. De fato, aí vemos a descrição de algo que poderíamos dizer que tem “muito luxo e muita pompa”:

Ao redor havia vinte e quatro tronos, e neles, sentados, vinte e quatro Anciãos vestidos de vestes brancas e com coroas de ouro na cabeça. (4,4)

Quando recebeu o livro, os quatro Animais e os vinte e quatro Anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um uma cítara e taças de ouro cheias de perfume (que são as orações dos santos). (5,8)

E os quatro Animais di­ziam: “Amém!”. Os Anciãos prostravam-se e adoravam. (5,4)


Sob qualquer ótica, aqui não temos essa atmosfera de “refeição comunitária” que alguns tanto quiseram enxergar e introduzir na Missa. Isso para não mencionar que Nosso Senhor nos deu a Igreja para levar sua missão adiante, não para ficar estagnada no que Ele fez materialmente na Terra, sem progredir, sem avançar e sem produzir mais nada. Não somos chamados a ser restauracionistas como o querem ser muitos grupos protestantes, os quais não têm a plenitude da Verdade; somos chamados a seguir a Igreja, aquela a que Cristo entregou sua Autoridade, a mesma Igreja que instituiu legalmente o Missal de 1962 como obrigatório aos católicos daquela época, e ainda é uma legítima opção nos dias de hoje.

Cristo é também o Onipotente Rei do Universo e o Sumo Sacerdote, digno de todo louvor e glória que possamos lhe render. Notamos isso no capítulo 12 do Evangelho segundo São João: o Cristo não tem objeção à exposição generosa da devoção humana, e ama a todos os que estão perto d’Ele. Judas teve a mesma objeção que muitos falsos “humildes” têm, hoje: não honrá-lo com luxo, para economizar recursos e com isso ajudar os pobres… Mas o Senhor Jesus o repreendeu dizendo que estava errado, que nós devemos oferecer o nosso melhor onde Ele estiver (nas igrejas, e mais importante: na Sagrada Liturgia, principalmente na Santa Missa, onde está Presente em Corpo e Sangue, Alma e Divindade). Então, nos momentos que Ele não estiver entre nós, sim, devemos retornar à nossa vida comum e sermos humildes, e dedicar o nosso tempo para a caridade e o auxílio aos pobres.

Em outras palavras, aqueles que reclamam que a Missa de Sempre tem muita pompa, argumentando que Cristo não quer isso, deveriam reexaminar suas posições e observar o contexto mais amplo do problema, incluindo o que o Divino Mestre disse de Si mesmo, através das Escrituras (Jo 12, por exemplo) e, principalmente, através da Sua Igreja, que agora exerce Sua Autoridade na Terra.

Os protestantes e os adeptos da ideia de que se deva oferecer a Deus uma liturgia miserável deveriam manter em mente que a Segunda Pessoa da Santíssima e Indivisível Trindade, Deus Eterno e Encarnado, Nosso Senhor Jesus Cristo, não desprezou nada das práticas e usos litúrgicos do antigo Templo. Em nenhum lugar Ele criticou o seu simbolismo, e até o empregou em muitos discursos e parábolas. Além disso, nenhuma forma de culto, por mais simples que seja, está livre da possibilidade de corrupção, distorção ou hipocrisia, apenas por ser simples. A prática, na realidade, tem demonstrado o contrário.


O sentido da beleza e do luxo


O que seria da alma cristã se fizesse parte de uma Igreja carente de Liturgia? É através da pompa dos ritos sagrados que a voz da Graça se faz ouvir, suave e materna, como a dizer: “Meu filho, vem degustar um pouco do que é o Céu”…

Durante os dois mil anos de sua militante, vitoriosa e imortal existência, a Santa Igreja sempre foi e será um vivíssimo reflexo do Esplendor de Deus. Fecundada pelo precioso Sangue do Redentor, Ela foi fundada com vistas a fazer com que Céus e terra, em uníssono, rendessem ao Criador um único cântico de louvor.

Ciente deste papel de mãe, educadora e rainha das nações, a Esposa de Cristo se esmerou em manifestar sua pulcra grandeza nas catedrais (‘Se estes se calarem, as pedras clamarão’, conf. Lc 19,40); sua atraente piedade nas imagens e pinturas sacras; sua majestade luminosa e multiforme nos vitrais. No entanto, tudo isso externa uma beleza estática. Tais elementos cativam, sem dúvida, o espírito do fiel que deles se aproxima, mas são apenas figuras e predicados que apontam uma Realidade muito mais alta.

Que realidade é esta?

Para explicá-la, imaginemos que fosse dado a alguém a dádiva de uma visita ao Paraíso Celeste. Lá chegando, poderia encontrar os palácios esplendorosos dos Santos, os jardins dotados de singularíssima variedade de flores e perfumes, superando tudo quanto a Terra já deu na sua plenitude. Ou, então, se depararia com mares calmos e límpidos, mais parecidos com safiras derretidas. Contudo, se esse extasiante conjunto de sublimidades estivesse deserto, isento de qualquer vida, movimento e som, acaso estaria completa a alegria daquele visitante?

Assim também seria a alma católica se fizesse parte de uma Igreja desprovida de Liturgia, pois é através da pompa própria aos ritos sagrados que a Voz da Graça se faz ouvir suave e materna como a dizer: “Meu filho, vem degustar um pouco do que é o Céu…”.

Seja na harmonia, ora suave, ora grave, ora gloriosa das músicas; seja na sacralidade compassada dos movimentos do celebrante e dos que servem ao Altar; seja na fumaça perfumada do incenso que se eleva, cheia de nobreza, como a oração do justo a Deus; seja, enfim, na beleza tantas vezes arrebatadora dos objetos sagrados, a Liturgia é feita para o homem se esquecer momentaneamente da pequenez da vida cotidiana e imergir na atmosfera celeste para a qual foi criado.

“Ao Senhor triunfante convém toda a glória”[1], rezamos no Ofício Divino. A dignidade e riqueza dos ritos e alfaias litúrgicos não reflete opulência ou ostentação, mas sim o desejo de glorificarmos nosso Pai e Criador. Este anseio deve estar presente, tanto numa cerimônia pontifícia quanto na mais modesta das Celebrações Eucarísticas, pois todas elas constituem, para o católico, alento para a alma, segurança para seus passos e vigor para sua vida.

A Liturgia poderia ser vista também, de modo análogo, como uma repetição daquelas inefáveis conversas que Deus mantinha com o homem no Paraíso “à hora da brisa da tarde” (Gn 3, 8), antes de sua horrível queda. É participando dela que o fiel pode provar e ver a suavidade do Senhor, conhecer de alguma forma o Deus sumamente belo, a quem serve, e conviver com o Pai indescritivelmente Bom que, já na Terra, nos dá a saborear as coisas do Céu.


Nota:
1. 4ª SEMANA DO SALTÉRIO. Hino do Ofício das Leituras. In: COMISSÃO EPISCOPAL DE TEXTOS LITÚRGICOS. Liturgia das Horas. Petrópolis: Vozes; Paulinas; Paulus; Ave-Maria, 2000, v.III, p.1033.

Fontes e ref.:
1ª parte: adaptação do artigo Does the EF Have Too Much Pomp?, postado em New Liturgical Movement, acesso em 29/1/2024]
2ª parte: artigo “Saborear já na Terra as coisas do Céu”, por Ir. Mariana de Oliveira, EP para a revista Arautos do Evangelho, set/2007, n. 69, p. 18 à 21.

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A BÍBLIA CONFIRMA A SANTA IGREJA

A BÍBLIA COMO “ÚNICA REGRA” É HERESIA:
 
“Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação particular.”
(2 Pedro 1,20)
 
“Escrevo (a Bíblia) para que saibas como comportar-te na Igreja, que é a Casa do Deus Vivo, a coluna e o fundamento da Verdade.”
(1Timóteo 3,15)
 
“…Vós examinais as Escrituras, julgando ter nelas a vida eterna. Pois são elas que testemunham de Mim, e vós não quereis vir a Mim, para terdes a vida.”
(João 5,39-40)
 

“Porque já é manifesto que vós (a Igreja) sois a Carta de Cristo, ministrada por nós (Apóstolos), e escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração (…); o qual nos fez também capazes de ser ministros de um Novo Testamento, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.”
(2Cor 3,3.6)

A IGREJA SEMPRE OBSERVOU A TRADIÇÃO APOSTÓLICA
 

“Em Nome de nosso Senhor Jesus Cristo, apartai-vos de todo irmão que não anda segundo a Tradição que de nós recebeu.”
(2 Tessalonicenses 3,6)

“Então, irmãos, estai firmes e guardai a Tradição que vos foi ensinada, seja por palavra (Tradição), seja por epístola nossa (Bíblia). ”
(2 Tessalonicenses 2, 15)
 
JESUS CRISTO INSTITUIU O PAPADO
 

“Tu és Pedra, e sobre essa Pedra edifico a minha Igreja (…). E eu te darei as Chaves do Reino dos Céus; e tudo o que ligares na Terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na Terra será desligado nos Céus.”
(Mateus 16, 18)

“(Pedro,) apascenta o meu rebanho.”
(João 21,15-17)

“Irmãos, sabeis que há muito tempo Deus me escolheu dentre vós (Apóstolos), para que da minha boca os pagãos ouvissem a Palavra do Evangelho.”
– S. Pedro Apóstolo, primeiro Papa da Igreja de Cristo (Atos dos Apóstolos 15, 7)
 
“Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça. E tu, confirma os teus irmãos.”
– Jesus Cristo a S. Pedro (Lucas 22, 31-32)
 
A IGREJA SEMPRE VENEROU MARIA COMO MÃE DE DEUS
 

“Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe do Senhor? (Mãe do Senhor = Mãe de Deus, pois Jesus é Deus)”
O Espírito Santo pela boca de Isabel à Virgem Maria (Lucas 1,43)

“De hoje em diante, todas as gerações me proclamarão Bem-aventurada!”
– Santíssima Virgem Maria, Mãe de Nosso Senhor
(Lucas 1, 48)

NÃO HÁ VÁRIAS IGREJAS E SIM UMA SÓ
 

“Há um só Senhor, uma só Fé, um só Batismo”
(Efésios 4,5)

“Ainda que nós ou um anjo baixado do Céu vos anuncie um evangelho diferente do nosso (Apóstolos), que seja anátema.”
(Gálatas 1, 8)

NÃO HÁ SALVAÇÃO SEM A EUCARISTIA
 

“Em Verdade vos digo: se não comerdes da Carne e do Sangue do Filho do homem, não tereis a Vida em vós mesmos.”
(João 6, 56)

“Minha Carne é verdadeiramente comida, e o meu Sangue é verdadeiramente bebida.”
(João 6, 55)
 
“O Cálice que tomamos não é a Comunhão com o Sangue de Cristo? O Pão que partimos não é a Comunhão com o Corpo de Cristo?”
(1ª aos Coríntios 10, 16)
 
A IGREJA SEMPRE CREU NA INTECESSÃO DOS SANTOS, QUE ROGAM POR NÓS NO CÉU
 

“E a fumaça do incenso subiu com as orações dos santos, da mão do anjo, diante de Deus.”
(Apocalipse 8, 4)

“Aqui (no Céu) está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os Mandamentos de Deus e a Fé em Jesus.”
(Apocalipse 14, 12)
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