NO VATICANO HÁ uma sala imensa e famosa, muito visitada por turistas, que tem as grandes paredes revestidas com impressionantes pinturas, de alto a baixo, representando belamente a geografia das ilhas e regiões da Itália e redondezas: é a “Galeria dos Mapas”. Estão aí ilustrados, também, eventos navais importantes para a história da Igreja, como o Cerco de Malta e a inesquecível Batalha de Lepanto, comandada por Dom João da Áustria.
Nessa última, as forças celestes se uniram aos homens fiéis para a vitória de Deus na Terra! Sob uma perspectiva meramente humana, não havia como não dar por certo que as poderosas forças muçulmanas turcas, com seus trezentos barcos de guerra no mar da Grécia, esmagariam a minoritária frota cristã. Sim, os turcos detinham o poder e eram a maioria; mas, por ação direta de Deus, por meio de Nossa Senhora, milagrosamente, as forças turcas foram aniquiladas. Sobre as águas do Golfo de Corinto, os bravos combatentes fiéis foram favorecidos e confirmados na sua fé.
Naquela imensa sala dos mapas do Vaticano, está localizada, bem ao centro desse gigantesco conjunto de mapas, a representação da cidade de Roma, a Roma eterna, Sede da Santa Igreja Católica. Toda a Galeria, assim, proclama que todos os acontecimentos da História se dão em função da Esposa de Cristo, e que a Divina Providência, representada na Batalha de Lepanto, emprega o seu invencível poder para fazer triunfar a causa do bem, da verdade e da justiça, que só na Igreja se encontra em plenitude.
Bem, muitos dos fiéis de hoje parecem ter perdido o rumo. Por causa da infeliz mistura entre luz e trevas que o demônio conseguiu instalar sobre a face da terra, já não conseguem mais discernir onde se encontra a verdade, o bem, o belo, e discerni-los do erro, do engano, da falsidade. Confusos e desorientados no meio de um mundo cada vez mais perverso e iníquo e à mercê de pastores “mornos” (Ap 3,16), tateiam às escuras sem conseguir encontrar o Caminho, Verdade e Vida que é o Salvador.
Nestes dias, vai se fazendo necessário, cada vez mais, aprender a sentire cum Ecclesia – sentir com a (verdadeira) Igreja, observando a célebre máxima cunhada por Santo Inácio de Loyola nos seus Exercícios Espirituais. Quem busca sinceramente “sentir com a Igreja”, tornando-se com Ela “um só coração e uma só alma”, encontra finalmente as certezas de que tanto precisa, e se converte em verdadeiro membro da Igreja Militante, que luta ombro a ombro com os Exércitos Celestes pela vitória total de Deus e de seu Cristo, no que será igualmente o triunfo final do Imaculado Coração de nossa Mãe do Céu.
A Igreja, Corpo de Cristo e a continuidade histórica de Nosso Senhor neste mundo, é, antes de tudo, uma instituição viva que tem por alma o próprio Espírito Santo. Ela não confina nem se limita a estruturas humanas, por mais portentosas que sejam: nem edifícios, nem cidades ou nações, mas sim no interior dos santos, aqueles que pertencem a Deus, amigos de Cristo e filhos da Santíssima Virgem!
O Reino de Deus não virá com aparato; nem se dirá: “Ei-lo aqui”, ou “ei-lo acolá”. Porque eis que o Reino de Deus está dentro de vós.
(Lc 17,20s)
Não é mera coincidência que hoje a Igreja visível, exterior, esteja sofrendo essa crise aterrorizante e essa apostasia generalizada na exata medida em que se torna cada vez menos interior e mais voltada às questões exteriores, como o bem-estar material e psicológico, quando se contemporizam os piores pecados em prol de uma falsa caridade, em que se nega a importância da apologética e da busca por conversões a pretexto de um falso ecumenismo e do respeito humano disfarçado de “caridade”, em que se defendem abertamente a escandalosa teoria de que todas as religiões são válidas e franqueiam a salvação, em ostensiva negação da Verdade revelada em nome de um pluralismo venenoso e de uma fraternidade apóstata que levará, ao fim, à perdição de uma multidão de almas.
Cabe lembrar aqui as palavras de Dom Athanasius Schneider quanto à sua posição em relação ao papado atual:
A Igreja é forte o suficiente e possui meios suficientes para proteger os fiéis do dano espiritual de um papa herético. Em primeiro lugar, existe o sensus fidelium, o senso sobrenatural da fé (sensus fidei). É o dom do Espírito Santo pelo qual os membros da Igreja possuem o verdadeiro sentido da fé. É um tipo de instinto espiritual e sobrenatural que faz o fiel sentire cum Ecclesia e discernir o que está em conformidade com a fé católica e apostólica transmitida por todos os bispos e papas, através do Magistério Ordinário Universal, e o que não está.
Devemos lembrar também as sábias palavras que o cardeal Consalvi falou com um furioso imperador Napoleão, quando este ameaçou destruir a Igreja: “Naquilo que nós [o clero] tentamos fazer e não tivemos sucesso, com certeza, não tereis sucesso”. Parafraseando essas palavras, pode-se dizer: mesmo um papa herético não pode destruir a Igreja. O papa e a Igreja não são de fato totalmente idênticos. O papa é o chefe visível da Igreja Militante na terra, mas ao mesmo tempo também é membro do Corpo Místico de Cristo.
Se o sopro do Divino Paráclito mover a bússola que guia os rumos desse Corpo Místico, os eleitos serão o seu ponteiro, apontando sempre a direção certa. Principalmente aqueles chamados a indicar à humanidade a vontade do Altíssimo em cada época, direcionando-a ao pleno cumprimento dos seus desígnios. O que precisamos fazer é nos unir a esses pastores fiéis, por poucos que sejam, e nos unirmos entre nós, que procuramos manter também a fidelidade. Alinhemos os nossos passos, com os nossos corações batendo em uníssono com o pulsar da Coração da Igreja – que é o Sagrado Coração de Cristo – e sejamos, assim, instrumentos do Reino de Deus. Vinde, Senhor Jesus!
Ref.:
Artigo “Sentire cum Ecclesia”, de Ir. Adriana María Sánchez García, EP para a Revista dos Arautos, jul/2020.
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