Módulo 7: História da Igreja 1 | Estudo do nome de São Pedro, primeiro Papa

Não poderíamos ainda dar por concluída a resolução do problema da autoridade do Papa sem refutar o outro pseudoargumento mais comum dos que não se conformam com a simples verdade. Como os fatos que apresentamos até aqui, se analisados de perto, são inquestionáveis, numa tentativa desesperada de negar a realidade do Primado de Pedro, alguns outros chegaram a criar outra interpretação espúria segundo a qual, sim, a Pedra era Pedro (já que isso é inegável), mas em grego a palavra para pedra grande seria petra, que significa rocha grande. Já palavra usada como nome para Simão, petros, significaria uma pedra pequena, uma “pedrinha”. Os pobres católicos estariam se iludindo, pensando que Jesus comparava Pedro a uma rocha, mas a realidade seria o contrário: o Senhor estaria, aí, contrastando, de um lado, a rocha sobre a qual a Igreja seria construída, o próprio Jesus (‘Petra’). De outro, essa mera pedrinha (‘Petros’). Jesus estaria assim querendo assim enfatizar que Ele mesmo é o fundamento da Igreja, e que Simão não estava nem de longe qualificado para tanto.

Essa segunda suposição é tão fraca e desprovida de fundamento que, nesse sentido, chega a dificultar a resposta: de tão absurdo, hesita o teólogo católico, enquanto decide por onde começar a desmantelá-lo. Primeiramente, vemos o quanto são variadas as denominações “evangélicas”, e notamos como o único objetivo que têm realmente em comum é renegar o Catolicismo e a legítima Igreja de Cristo: porque, se como dizem alguns deles, o Evangelho de Mateus não se refere a Simão como a Pedra (Petros), mas ao próprio Jesus Cristo, então estaria a Bíblia chamando o Senhor de “pedrinha”?! Assim, uma “igreja evangélica” acaba ridicularizando a teoria da outra, na tentativa de negar o catolicismo. Se houvesse mesmo essa alegada diferença nas expressões em grego (que não existe, como veremos), isto só serviria como uma comprovação a mais de que Jesus não estava se referindo a Si mesmo nessa frase.

Porém, como sabe todo conhecedor do grego antigo (católico ou não), os termos petros e petra eram sinônimos nesse idioma no século I. Essa distinção de significados pode ter existido séculos antes de Cristo, mas havia desaparecido no tempo em que o Evangelho de Mateus foi traduzido. Como podemos ter absoluta certeza disso? Simples: a diferença de significados existe apenas no grego ático, e o Novo Testamento foi escrito no koiné, um dialeto diferente. Em koiné, tanto petros quanto petra significam “pedra” ou “rocha”. Se Jesus quisesse chamar Simão de “pedrinha”, teria usado o termo lithos, mas isso claramente não faria sentido, observando-se o contexto da passagem, pois Nosso Senhor está saudando e parabenizando a Simão, chamando-o “bem-aventurado”; Cristo o presenteia de um modo incomparável, com as chaves do Reino dos Céus e o poder de ligar e desligar na Terra o que será ligado e desligado no Céu! Não haveria sentido algum em fazer isso e, ao mesmo tempo, chamá-lo de “pedrinha”, como um termo depreciativo.

Estamos diante de uma questão realmente tão simples que até estudiosos importantes de igrejas protestantes históricas o reconhecem: nesse sentido podemos citar, por exemplo, a respeitável obra de D. A. Carson e Frank E. Gaebelein, “The Expositors Bible Commentary”. Mas há os que insistem em ignorar o óbvio, e são os mesmos que costumam interpretar a Bíblia sempre literalmente em tudo o que não faz sentido, como no caso da proibição às imagens, por exemplo. Mas quando é para negar a autoridade da única Igreja instituída diretamente por Cristo, ainda que seja coisa totalmente evidente, mesmo que esteja escrito explicitamente, aí vão procurar interpretações desnecessariamente complexas e analógicas a partir do grego…

Com certeza é importante estudar os Textos Sagrados nos idiomas originais. E, por isso mesmo, não podemos nos esquecer que a origem dos Evangelhos não está na língua grega. As narrativas que possuímos hoje foram traduzidas da tradição oral e de manuscritos dados originalmente em aramaico, já que esta era a língua falada por Jesus, pelos Apóstolos e por todos os judeus da Palestina. Era essa a língua corrente da região, e sabemos com certeza que Jesus falava aramaico, também, devido a algumas de suas palavras que foram preservadas nos próprios Evangelhos e traduzidas para o grego, como em Mt 27, 46, onde Ele diz, na Cruz: “Eli, Eli, Lama Sabachtani” (‘Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?’). Isto é aramaico.

Os Livros do NT de que dispomos hoje estão escritos em grego porque não visavam apenas os cristãos da Palestina, mas também os de outros lugares, como Roma, Alexandria e Antioquia, onde o aramaico não era falado, e é por isso que também os Evangelhos foram traduzidos. Muito importante: nas epístolas gregas de Paulo (por quatro vezes em Gálatas e outras quatro em 1Coríntios), preservou-se a forma aramaica do novo nome de Simão. Em nossas Bíblias, aparece como Cefas. Isto não é grego, mas sim uma transliteração do aramaico Kepha (traduzido por Kephas na forma helenística).

Assim podemos saber o nome que Cristo realmente deu a Simão, na língua em que eles falavam. Seu nome era Simão, mas Deus lhe conferiu um novo nome, como fizera antes com Jacó e com Abrão ao dar a eles suas missões fundamentais na História da Salvação. Desde então, sempre fizeram assim os Papas ao assumir a Cátedra Petrina, escolhendo um nome apostólico pelo qual serão chamados a partir daí. Foi assim que o Senhor fez com Simão, mudando seu nome, por ter sido ele o primeiro a confessar que Jesus era o Cristo: Nosso Senhor chamou-o Kepha (Cefas). E o que significa essa palavra em aramaico? Significa rocha, uma pedra grande e maciça: é este o mesmo sentido de petra, em grego.

Já a palavra aramaica para uma pequena pedra é evna. O que Jesus realmente disse a Simão, numa tradução mais literal, em Mt 16, 18 foi: “A partir de agora tu és Rocha e sobre esta Rocha construirei a minha Igreja”. Algo novamente óbvio, afinal, não se poderia edificar nada sobre uma “pedrinha”.

Quando se conhece o que Jesus disse em aramaico, percebe-se que Ele comparava Simão a uma rocha; não estava comparando-se a Si mesmo com o Apóstolo, de modo algum; isso seria absurdo. Também podemos comprovar essa mesma realidade, vividamente, em algumas versões modernas e mais apuradas da Bíblia em língua inglesa, nas quais este versículo é muito bem traduzido: “You are Rock, and upon this rock I will build my Church”. Já em francês, sempre se usou apenas o termo “Pierre”, tanto para o novo nome de Simão quanto para rocha.

O fato simples e concreto é que não é preciso se perder em estudos linguísticos complexos nem em traduções de línguas orientais antigas para entender a questão. Além de toda evidência gramatical, a própria estrutura da narração de Mt 16 15-19 não permite uma diminuição do papel de Pedro na Igreja. Basta observar a forma na qual se estrutura o texto. Haveria algum sentido em Jesus dizer uma frase mais ou menos parecida com esta: “Bendito és tu, Simão, pois não foi a carne nem o sangue que te revelaram este Mistério, mas meu Pai, que está nos Céus. Por isto eu te digo: és uma pedrinha insignificante, e sobre a Rocha, que sou eu mesmo, edificarei a minha Igreja. Por isso te darei as chaves do Reino dos Céus, e tudo o que ligares na Terra será ligado no Céu, e tudo o que desligares na Terra será desligado no Céu”(!?)…

Uma “tradução” deste tipo se tornaria até cômica. Somente um indivíduo dotado de muita má vontade para conceber ou aceitar tal insanidade. A verdade, que está na Escritura para quem quiser ver, é que Jesus abençoa Pedro triplamente: coloca Pedro como uma espécie de comandante ou primeiro ministro da Igreja, abaixo do Rei dos reis, dando-lhe as chaves do Reino. Assim como em Isaías (22,22), época em que os reis apontavam um comandante para os servir, em posição de grande autoridade para governar sobre os habitantes do reino: pois Jesus cita quase que verbalmente esta passagem de Isaías, o que torna claríssimo aquilo que Ele tinha em mente.

Terminou? Ainda não. Eis que, numa última tentativa de argumentar, vão dizer ainda certos “evangélicos” de má vontade: “Então, se ‘kepha’ significa o mesmo que ‘petra’, porque a versão grega não traz ‘Petra’? Por quê, para o novo nome de Simão, Mateus usa o grego ‘Petros’?” Ocorre que o tradutor de Mateus precisou fazer isso, simplesmente porque não teve escolha. Grego e aramaico possuem diferentes estruturas gramaticais: em aramaico, pode-se usar somente kepha na passagem em questão. Mas em grego, encontramos um problema: os substantivos possuem terminações diferentes para cada gênero. Em grego, existem substantivos femininos, masculinos e neutros, e a palavra petra é feminina. Assim, não se pôde usá-la para traduzir o novo nome de Simão, somente porque se trata de um homem, não de uma mulher. Ao traduzir para o grego, foi preciso “masculinizar” a terminação do nome. Fazendo-o, surgiu o termo Petros, da mesma maneira que no português não dizemos “Apóstolo Pedra”, já que o substantivo pedra é feminino: também em português foi preciso criar o masculino de pedra, que deu em “Pedro”.

Uma observação final: no português, “pedra” pode ser usado tanto para uma estrutura gigantesca como a Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro, quanto para uma pequena pedra que atiramos a um rio. Por certo, na tradução do aramaico para o grego perdeu-se parte do jogo de palavras usado pelo Senhor, assim como na tradução para o português.

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A BÍBLIA CONFIRMA A SANTA IGREJA

A BÍBLIA COMO “ÚNICA REGRA” É HERESIA:
 
“Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação particular.”
(2 Pedro 1,20)
 
“Escrevo (a Bíblia) para que saibas como comportar-te na Igreja, que é a Casa do Deus Vivo, a coluna e o fundamento da Verdade.”
(1Timóteo 3,15)
 
“…Vós examinais as Escrituras, julgando ter nelas a vida eterna. Pois são elas que testemunham de Mim, e vós não quereis vir a Mim, para terdes a vida.”
(João 5,39-40)
 

“Porque já é manifesto que vós (a Igreja) sois a Carta de Cristo, ministrada por nós (Apóstolos), e escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração (…); o qual nos fez também capazes de ser ministros de um Novo Testamento, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.”
(2Cor 3,3.6)

A IGREJA SEMPRE OBSERVOU A TRADIÇÃO APOSTÓLICA
 

“Em Nome de nosso Senhor Jesus Cristo, apartai-vos de todo irmão que não anda segundo a Tradição que de nós recebeu.”
(2 Tessalonicenses 3,6)

“Então, irmãos, estai firmes e guardai a Tradição que vos foi ensinada, seja por palavra (Tradição), seja por epístola nossa (Bíblia). ”
(2 Tessalonicenses 2, 15)
 
JESUS CRISTO INSTITUIU O PAPADO
 

“Tu és Pedra, e sobre essa Pedra edifico a minha Igreja (…). E eu te darei as Chaves do Reino dos Céus; e tudo o que ligares na Terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na Terra será desligado nos Céus.”
(Mateus 16, 18)

“(Pedro,) apascenta o meu rebanho.”
(João 21,15-17)

“Irmãos, sabeis que há muito tempo Deus me escolheu dentre vós (Apóstolos), para que da minha boca os pagãos ouvissem a Palavra do Evangelho.”
– S. Pedro Apóstolo, primeiro Papa da Igreja de Cristo (Atos dos Apóstolos 15, 7)
 
“Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça. E tu, confirma os teus irmãos.”
– Jesus Cristo a S. Pedro (Lucas 22, 31-32)
 
A IGREJA SEMPRE VENEROU MARIA COMO MÃE DE DEUS
 

“Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe do Senhor? (Mãe do Senhor = Mãe de Deus, pois Jesus é Deus)”
O Espírito Santo pela boca de Isabel à Virgem Maria (Lucas 1,43)

“De hoje em diante, todas as gerações me proclamarão Bem-aventurada!”
– Santíssima Virgem Maria, Mãe de Nosso Senhor
(Lucas 1, 48)

NÃO HÁ VÁRIAS IGREJAS E SIM UMA SÓ
 

“Há um só Senhor, uma só Fé, um só Batismo”
(Efésios 4,5)

“Ainda que nós ou um anjo baixado do Céu vos anuncie um evangelho diferente do nosso (Apóstolos), que seja anátema.”
(Gálatas 1, 8)

NÃO HÁ SALVAÇÃO SEM A EUCARISTIA
 

“Em Verdade vos digo: se não comerdes da Carne e do Sangue do Filho do homem, não tereis a Vida em vós mesmos.”
(João 6, 56)

“Minha Carne é verdadeiramente comida, e o meu Sangue é verdadeiramente bebida.”
(João 6, 55)
 
“O Cálice que tomamos não é a Comunhão com o Sangue de Cristo? O Pão que partimos não é a Comunhão com o Corpo de Cristo?”
(1ª aos Coríntios 10, 16)
 
A IGREJA SEMPRE CREU NA INTECESSÃO DOS SANTOS, QUE ROGAM POR NÓS NO CÉU
 

“E a fumaça do incenso subiu com as orações dos santos, da mão do anjo, diante de Deus.”
(Apocalipse 8, 4)

“Aqui (no Céu) está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os Mandamentos de Deus e a Fé em Jesus.”
(Apocalipse 14, 12)
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