Agora já podemos falar da união dos dois métodos propostos na lição anterior. 1) Primeiro passo: é necessário estudar e conhecer sempre melhor e mais perfeitamente a Doutrina revelada, tal qual nos é oferecida pelas Sagradas Escrituras e pela santa Tradição, compreendendo nela o Magistério ordinário da Igreja. Com o auxílio da Doutrina, então, podemos determinar, pelo método dedutivo, o que é a vida cristã e a sua perfeição, sabendo quais são os seus diferentes graus, e a marcha progressiva que se deve geralmente seguir para chegar à contemplação. Saberemos então em que consiste esta contemplação, quer nos seus elementos essenciais, quer nos fenômenos extraordinários que por vezes a acompanham.
• A este estudo doutrinal é preciso a juntar o método de observação:
— a) examinar com cuidado as almas, suas qualidades e defeitos, suas características próprias, suas inclinações e repugnâncias, os movimentos da natureza e da Graça que nelas se produzem; tais conhecimentos psicológicos permitirão determinar quais os meios de perfeição que lhes convêm; as virtudes de que têm maior necessidade e para as quais a Graça as inclina, sua correspondência a essa mesma Graça; os obstáculos que encontram e os meios que lhes dão melhor resultado para triunfar.
— b) Para fazer tal observação, pode-se ler as vidas dos Santos, sobretudo as que, sem dissimular os seus defeitos humanos, mostram a maneira progressiva como eles os combateram, como e por quais meios praticaram as virtudes; se passaram, e como o fizeram, da via ascética à via mística, sob quais influências. c) Também na vida dos contemplativos se devem estudar os fenômenos diversos da contemplação, desde os primeiros e indecisos lampejos de luz até os mais elevados picos, os efeitos de santidade produzidos por estas graças, as provações a que foram submetidos, as virtudes que praticaram. Tudo isso virá completar e por vezes retificar os conhecimentos teóricos adquiridos pelo estudante.
— c) Com o auxílio dos princípios teológicos e dos fenómenos místicos bem estudados e classificados, poder-se-á subir mais facilmente à natureza da contemplação, às suas causas, suas espécies, distinguir o que há nela de normal e de extraordinário. Haverá que se buscar entender em que medida os dons do Espírito Santo são os princípios formais da contemplação, e como se devem cultivá-los, para a alma se por nas disposições interiores favoráveis à contemplação. Haverá que se examinar, então, se os fenómenos devidamente verificados se explicam todos por dons do Espírito Santo, se alguns não supõem espécies infusas, e como estas operam na alma; ou, então, se é o amor que produz esses estados de alma, sem conhecimentos novos. Então é que se poderá ver melhor em que consiste o estado passivo, e em que proporção a alma nele permanece ativa, a parte de Deus e da alma na contemplação infusa; o que é ordinário neste estado, o que se torna extraordinário e preternatural. Assim se poderá estudar melhor o problema da vocação ao estado místico.
Procedendo assim, teremos mais probabilidade de chegar à verdade, às conclusões práticas para a direção das almas; um estudo deste gênero será não menos atraente que santificante.
Com que espírito se deve seguir este método unificado?
É necessário estudar estes árduos problemas com serenidade e ponderação, sempre com o único fim de conhecer a verdade, não por qualquer desejo superficial ou vaidoso, baseado em nossas preferências particulares, porque a nossa compreensão das coisas, fora de Deus, está sempre sujeita ao engano.
Por conseguinte, importa descobrir e por em evidência tudo o que é certo ou comumente admitido, e deixar para um segundo plano aquilo que é matéria de debate. A direção, que se há de seguir não depende das questões controversas, senão das doutrinas comumente recebidas, aceitas e autenticadas pela santa Igreja. Há unanimidade em todas as escolas, por exemplo, em reconhecer que a abnegação e a caridade, o sacrifício e o amor são necessários a todas as almas em todas as vias; que a combinação harmônica deste duplo elemento depende muito do caráter das pessoas que se empenham na busca. Todas admitem igualmente que não se deve jamais cessar de praticar o espírito de penitência, ainda que tome diferentes formas segundo os diferentes graus de perfeição; que é preciso exercitar as virtudes morais e teologais de maneira cada vez mais perfeita, para chegar à via unitiva, e que os dons do Espírito Santo, cultivados com diligência, dão à nossa alma uma maleabilidade que a torna mais dócil às inspirações da Graça e a preparam, se Deus a chamar, para a contemplação. Há igualmente acordo sobre o fato de que a contemplação infusa é essencialmente gratuita, que Deus a dá a quem Ele quer e quando quer; que, por conseguinte, ninguém se pode colocar a si mesmo nesse estado passivo de contemplação, e que os sinais de vocação próxima a esse estado são os que tão bem descreve São João da Cruz. E, uma vez chegadas à contemplação, devem as almas progredir na conformidade perfeita com a Vontade de Deus, na confiança ilimitada e sobretudo na humildade, virtude que recomenda constantemente Santa Teresa de Ávila.