Módulo 8: Ascética e Mística 3 | Manual prático para a vida interior, Lição VI


Retira-te em secreto (Mt 6,6s); escolhe a melhor parte, e esta não te será tirada (Lc 10,40-42).


Nesta parte prática, hoje, enfatizaremos justamente da maneira mais prática possível uma verdade que já dissemos nesta formação, mas que sabemos, pela experiência com a direção espiritual, o quanto é difícil que entre e se instale no subconsciente de cada um, e mais ainda que se torne um hábito do cristão. Insistiremos muito nisso, porque é coisa sumamente importante em nossa jornada neste mundo, algo que pode mesmo fazer a diferença para a sua eternidade, estudante. Concentre-se, pois, e redobre a atenção, sabendo que o Diabo quer muito desviá-lo desta verdade e dissuadi-lo de praticar o que ensinamos nesta parte, e mais ainda de fazer disso um hábito diário.

Estamos nos referindo à prática da contemplação passiva, na oração mental sem palavras, no ato de adoração mais profundo que surge depois da contrição, da oração corretamente ordenada, com o oferecimento da prática a Deus (tudo pode ser feito em menos de um minuto, porque nossa ânsia aqui não é por palavras nem por sacrifício, mas pelo Amor de Deus. Porque todos os sermões, catequeses, todas as exortações, pregações e os bons ensinamentos, que são necessários e edificantes, não são capazes de substituir o poder que há em simplesmente assentar-se aos pés de Cristo-Deus e deixá-lo ser Deus em nosso ser. Em silenciar para ouvi-lo falar, e saber o que tem a dizer.

Intimidade com Deus é a coisa mais indispensável para descomplicar todas as dificuldades da vida, aliviar o mais pesado fardo, resolver os mais intrincados problemas, superar todo obstáculo na vida espiritual, o que vai se refletir – não duvide – em nossa vida temporal, nas resolução dos problemas materiais, do trabalho, da vida conjugal, do relacionamento com os filhos, com o próximo, e tudo, tudo o mais.

Buscai primeiro o Reino e sua justiça, e tudo o mais vos será acrescentado.
(Mt 6,33)


Buscar primeiro o Céu, e praticar a Justiça, que no sentido bíblico significa, primordialmente, buscar e cumprir a Vontade de Deus em todo o tempo, em todas as situações. E ninguém é capaz de fazê-lo melhor do aquele que tem intimidade com Deus. Não há melhor maneira de crescer na Graça e no conhecimento de Deus; não há melhor maneira de ter paz e alegria em qualquer situação. Qualquer situação, mesmo as mais extremas, como provou de modo admirável o Cardeal Van Thuân (foto de cabeçalho desta aula), cuja história é tão pouco conhecida.

François-Xavier Nguyên Van Thuân passou 13 anos de sua vida em uma tenebrosa prisão comunista no Vietnã, e os últimos 11 anos de sua existência neste mundo no exílio. É uma das grandes testemunhas do empenho cristão na luta pelos direitos humanos no século XX. Mas a grande força do seu testemunho está na sua capacidade de cultivar o amor e a esperança nas situações realmente mais difíceis, o que o tornou um exemplo de vida cristã admirável para nós.

Van Thuân nasceu no Vietnã aos 17 de abril de 1928. Filho de uma família católica, foi ordenado padre em 1953 e bispo em 1967. Foi feito prisioneiro pelo governo comunista do Vietnã em 1975, tendo permanecido na prisão, sendo submetido aos piores maus tratos que se pode imaginar, por longos 13 anos. Durante meses, esteve confinado em uma cela minúscula, sem nenhuma janela e úmida; para conseguir respirar, passava horas com o rosto enfiado num pequeno buraco no chão. Seus carcereiros eram mudados constantemente, para evitar que conversassem com ele e sentissem por ele misericórdia. Porém, após algum tempo, as autoridades comunistas chegaram á conclusão de que essa não era uma boa estratégia, pois a cada dia mais, os guardas se “contaminavam” com o exemplo admirável daquele prisioneiro. Mesmo naquela situação pavorosa, ele estava sempre sorrindo, dizia boas palavras aos guardas, parecia estar sempre imerso em uma paz inabalável. Nesse longo e terrível período de prisão, conseguiu escrever, às escondidas, três livros, todos dedicados ao tema da esperança!

Van Thuân foi libertado em 1988. Em 1991, foi para Roma e nunca mais obteve permissão de voltar ao Vietnã. No Vaticano, tornou-se presidente (1998) do Pontifício Conselho Justiça e Paz. Em 2000, pregou o retiro quaresmal para o papa João Paulo II e a cúria romana, tendo sido feito cardeal em 2001. Faleceu aos 16 de setembro de 2002, e sua causa de beatificação foi aberta em 2007.


Qual o segredo de Van Thuân? Não é tão difícil de imaginar de onde ele tirava forças, sobre como podia se sentir bem e em paz mesmo sob condições tão desumanas. De fato, a intimidade com Deus não só se mantém, mas realmente aumenta quando sofremos, e aí está o segredo de toda dor e sofrimento neste mundo. Deus quer que voltemos para Ele. E Deus está disponível e acessível a cada um de nós, não só nas urgências e nos momentos de tribulação, mas também na alegria e na tranquilidade. A alma fala a Deus e Ele ouve, e fala com a alma de forma íntima, amiga, pessoal. Não há nada melhor ou mais importante do que essa amizade e intimidade com Deus, porque Deus é, literalmente, tudo o que há de bom e belo.

Qual o segredo para ter um relacionamento assim com Deus? O segredo está em duas coisas:

1º – Escolher a melhor parte, a melhor coisa, como fez Maria. A imensa maioria dos homens e mulheres fazem como sua irmã, Marta: estão sempre muito ocupados e estressados, trabalhando todo o tempo, como escravos do dinheiro, para que possam adquirir muitas quinquilharias inúteis que não lhes dão a paz que procuram.

Pare e leia agora Lc 10,40-42.


2º – Habituar-se a procurar o lugar secreto, fechar-se em seu quarto para colocar-se diante de Deus, que nos vê em segredo. Assim é que se pode deixar para trás a agitação doentia do mundo e mergulhar nas águas mais profundas, as águas da vida abundante do Espírito Santo, que nos enche de paz e de poder para vencer todas as dores e dificuldades.

Pare e leia agora Mt 6,6-7.


A porta fechada nos isola dos barulhos do mundo e nos conduz a um silêncio de expectativa somente em Deus. Ele vai falar e nós poderemos ouvir. A meditação e contemplação passiva é um grande segredo que poucos entendem, pois o muito estudo e a assimilação de conteúdos são coisas diferentes de realmente meditar. A meditação em Deus leva ao aprofundamento em Deus, logo à santidade. Assim é que o fiel deixa de ser apenas um eterno ouvinte e um eterno estudante, passando a ser um praticante da Palavra de Deus.

Ultimamente, temos muitos bons motivos para preocupação. As expectativas para o futuro mostram-se sinistras; todos nós, cristãos, sofremos uma grande derrota, o diabo obteve um grande triunfo, paira no ar a desesperança, há lágrimas e expressões de ira inflamada por todos os lados, não sem razão. Mas os que depositam as suas esperanças em posses e criaturas, e nas circunstâncias sempre instáveis deste mundo, estão mesmo fadados ao desespero. Apenas os que escolhem a melhor parte, os que depositam a sua esperança e sua confiança em Deus, têm sempre paz e alegria que não cessam nem nos abandonam.

O exemplo de Van Thuân é utilíssimo nestes nossos dias; é quase como uma analogia extrema para o que estamos vivendo: perseguido, preso e submetido aos piores maus tratos por comunistas. O que fez? Tirou força da sua intimidade com Deus, aprofundou seu relacionamento com Nosso Senhor, e o resultado de contemplar Jesus Cristo, permanecendo em sua Presença, reverteu-se no bem dos seus algozes e na liberdade para ele próprio.

Esse “lugar secreto” nos dará o que precisamos, será nosso socorro e auxílio, ensinará o que precisamos saber, conferirá a paz de espírito e as forças para perseverar.

Para saber como fazer a oração mental passiva, ou a meditação que visa a contemplação, pratique o passo a passo do que está ensinado em nosso fascículo nº1, a partir da página 29. Faça-o sempre que puder, se possível todos os dias. Com o tempo e a prática constante, verá que já nem é mais necessário cumprir todas as etapas ali descritas, porque a meditação/contemplação se tornará o seu viver, como o seu próprio respirar, e tudo o que fizer, tudo do que desfrutar e padecer, será assim em íntima comunhão com Deus.

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A BÍBLIA CONFIRMA A SANTA IGREJA

A BÍBLIA COMO “ÚNICA REGRA” É HERESIA:
 
“Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação particular.”
(2 Pedro 1,20)
 
“Escrevo (a Bíblia) para que saibas como comportar-te na Igreja, que é a Casa do Deus Vivo, a coluna e o fundamento da Verdade.”
(1Timóteo 3,15)
 
“…Vós examinais as Escrituras, julgando ter nelas a vida eterna. Pois são elas que testemunham de Mim, e vós não quereis vir a Mim, para terdes a vida.”
(João 5,39-40)
 

“Porque já é manifesto que vós (a Igreja) sois a Carta de Cristo, ministrada por nós (Apóstolos), e escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração (…); o qual nos fez também capazes de ser ministros de um Novo Testamento, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.”
(2Cor 3,3.6)

A IGREJA SEMPRE OBSERVOU A TRADIÇÃO APOSTÓLICA
 

“Em Nome de nosso Senhor Jesus Cristo, apartai-vos de todo irmão que não anda segundo a Tradição que de nós recebeu.”
(2 Tessalonicenses 3,6)

“Então, irmãos, estai firmes e guardai a Tradição que vos foi ensinada, seja por palavra (Tradição), seja por epístola nossa (Bíblia). ”
(2 Tessalonicenses 2, 15)
 
JESUS CRISTO INSTITUIU O PAPADO
 

“Tu és Pedra, e sobre essa Pedra edifico a minha Igreja (…). E eu te darei as Chaves do Reino dos Céus; e tudo o que ligares na Terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na Terra será desligado nos Céus.”
(Mateus 16, 18)

“(Pedro,) apascenta o meu rebanho.”
(João 21,15-17)

“Irmãos, sabeis que há muito tempo Deus me escolheu dentre vós (Apóstolos), para que da minha boca os pagãos ouvissem a Palavra do Evangelho.”
– S. Pedro Apóstolo, primeiro Papa da Igreja de Cristo (Atos dos Apóstolos 15, 7)
 
“Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça. E tu, confirma os teus irmãos.”
– Jesus Cristo a S. Pedro (Lucas 22, 31-32)
 
A IGREJA SEMPRE VENEROU MARIA COMO MÃE DE DEUS
 

“Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe do Senhor? (Mãe do Senhor = Mãe de Deus, pois Jesus é Deus)”
O Espírito Santo pela boca de Isabel à Virgem Maria (Lucas 1,43)

“De hoje em diante, todas as gerações me proclamarão Bem-aventurada!”
– Santíssima Virgem Maria, Mãe de Nosso Senhor
(Lucas 1, 48)

NÃO HÁ VÁRIAS IGREJAS E SIM UMA SÓ
 

“Há um só Senhor, uma só Fé, um só Batismo”
(Efésios 4,5)

“Ainda que nós ou um anjo baixado do Céu vos anuncie um evangelho diferente do nosso (Apóstolos), que seja anátema.”
(Gálatas 1, 8)

NÃO HÁ SALVAÇÃO SEM A EUCARISTIA
 

“Em Verdade vos digo: se não comerdes da Carne e do Sangue do Filho do homem, não tereis a Vida em vós mesmos.”
(João 6, 56)

“Minha Carne é verdadeiramente comida, e o meu Sangue é verdadeiramente bebida.”
(João 6, 55)
 
“O Cálice que tomamos não é a Comunhão com o Sangue de Cristo? O Pão que partimos não é a Comunhão com o Corpo de Cristo?”
(1ª aos Coríntios 10, 16)
 
A IGREJA SEMPRE CREU NA INTECESSÃO DOS SANTOS, QUE ROGAM POR NÓS NO CÉU
 

“E a fumaça do incenso subiu com as orações dos santos, da mão do anjo, diante de Deus.”
(Apocalipse 8, 4)

“Aqui (no Céu) está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os Mandamentos de Deus e a Fé em Jesus.”
(Apocalipse 14, 12)
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