Pontificado com mão de ferro: ao contrário do que se diz e muitos acreditam, são dez anos de expurgos de todos aqueles que ousam discordar


NÃO FORAM SOMENTE Strickland ou Burke. A longa série de bispos destituídos prematuramente pelo Papa Francisco acelerou no último ano e meio: a tão falada misericórdia só é aplicada para os inimigos declarados da Igreja. Todo aquele que se atreve a questionar as direções atuais ou defender a sagrada Tradição e o Magistério perene da Igreja – mesmo que respeitosamente –, é punido, como que para servir de exemplo ao demais. Até quando?

Cada caso individual é sempre desconcertante, mas o número total é chocante e impacta profundamente os rumos da Igreja para o futuro. Por isso, resolvemos publicar aqui a informação atualizada. Confira abaixo a lista dos bispos severamente defenestrados por discordar ou questionar o projeto de uma nova igreja “conciliar” e “sinodal” que está em pleno curso.


O último caso flagrante foi o castigo autoritário e totalmente constrangedor aplicado ao Cardeal Raymond L. Burke (saiba mais), pouco tempo depois de Dom Joseph Strickland, que vinha sofrendo pressão do Núncio para a sua demissão “voluntária”, ter sido afastado de sua diocese sem qualquer motivo justo ou sequer explicação, já que não há registro de qualquer escândalo financeiro ou sexual contra ele, muito menos de que fosse culpado de heresia. Strickland parece ter sido punido simplesmente pelo crime de pensar como sempre pensaram todos os bispos fiéis da Igreja, assumindo posições que desagradaram ao que já está sendo chamado “o politburo eclesiástico”: coisas como resistência às políticas sanitárias que cerceassem o direito de culto, oposição à bênção de duplas homossexuais, resistência à proibição da Missa de Sempre. Além disso, ele é culpado daquele “vício imperdoável” de insistir em manter numerosas vocações e um grande número de seminaristas em sua diocese.

Esse “vício” Strickland partilha com outro Bispo posto na lista negra: Dom Domique Rey, de Fréjus-Toulon, em cuja diocese as ordenações sacerdotais foram simplesmente congeladas, há mais de um ano, sem nenhum motivo razoável. A solução, segundo o jornalista Jean-Marie Guénois, seria uma “saída honrosa para o Mons. Rey e para o seu trabalho pastoral”: a nomeação de Dom François Touvet, Bispo de Châlons en Champagne, como “coadjutor” da diocese; uma espécie de diarquia durante os quatro anos que separaram Rey dos seus fatídicos 75 anos. Sendo realistas, se pensarmos no que aconteceu ao Bispo de Albenga-Imperia, Dom Mario Oliveri, isso seria um congelamento das faculdades do Bispo ordinário. É bastante difícil compreender como é que o pleno poder de jurisdição de um bispo sobre a sua diocese poderia ser assim dividido com um coadjutor ao gosto do Papa.

Essa longa série de afastamentos e punições exemplares, porém, começou com a terrível destituição, em 25 de setembro de 2014, do Bispo de Ciudad del Este, Paraguai, Dom Roger Ricardo Livieres Plano, que se recusava a renunciar sob pressão da Santa Sé. Várias críticas absurdas graves e comprovadamente falsas pesaram então sobre ele: ter acolhido um padre norte-americano acusado de abuso de um jovem (maior de 18 anos), cujo caso foi posteriormente arquivado por falta de provas e má gestão dos fundos da diocese; além disso, o “grande crime” de querer erigir um seminário independente na sua própria diocese.

Depois veio o dia 8 de novembro de 2014, com a destituição do já citado Cardeal Burke do cargo de Prefeito do Tribunal da Assinatura Apostólica, o mais alto órgão judicial da Santa Sé, para nomeá-lo patrono da Ordem dos Cavaleiros de Malta, um título puramente formal e que lhe destituia de qualquer poder, na prática. Mas também desse cargo ele foi demitido no dia 19 de junho de 2022, quando ainda não tinha 75 anos, para ser substituído pelo cardeal Gianfranco Ghirlanda, de 81 anos.

A seguir foi a vez do referido Bispo de Albenga-Imperia; em 1 de setembro de 2016, a sua renúncia foi aceita por Francisco, depois de Monsenhor Oliveri ter sido obrigado a dividir o seu poder de bispo e suas responsabilidades, durante mais de um ano, por um coadjutor, que ao final o substituiu efetivamente.

Também no dia 1º de setembro, Monsenhor Josef Clemens, prefeito do Pontifício Conselho para os Leigos, que durante muitos anos foi secretário pessoal do Cardeal Ratzinger, ficou sem cargo após a decisão de Francisco de abolir o referido Conselho.

Em 1º de julho de 2017, o Cardeal Gerhard Müller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé à época, foi demitido no final do seu mandato de cinco anos e, a seu pedido, não recebeu nenhuma outra missão.

Em 24 de outubro de 2018, uma defenestração relâmpago, para os padrões da Igreja: o Papa destituiu o Bispo de Memphis, Dom Martin David Holley, nomeado apenas dois anos antes. A série longa de remoções por “questões administrativas” havia começado.

Em 2018 começam os expurgos argentinos. Primeiro, o Arcebispo de La Plata, Dom Héctor Aguer, despediu-se menos de uma semana depois de completar 75 anos, ficando sem teto. Depois foi a vez de Dom Pedro Daniel Martinez Perea, Bispo de San Luis que, em 2017, havia se posicionado contra a abertura da polêmica Amoris Lætitia; em dezembro de 2019, a Santa Sé ordenou uma visita apostólica à sua diocese e, em 13 de março do ano seguinte, foi convocado a Roma: em 9 de junho de 2020, foi anunciada a aceitação da sua renúncia pelo Papa. Nenhuma explicação, nenhuma possibilidade de defesa. Dom Perea também foi mandado para casa sem designação.

Outro prelado argentino: Dom Eduardo Maria Taussig, Bispo de San Rafael; uma intervenção do Prefeito da Congregação para o Clero, Cardeal Beniamino Stella, obrigou-o a encerrar o então próspero seminário diocesano em 2020, e em 2022 ele foi “encorajado” a deixar o cargo, com apenas 68 anos de idade. O Papa aceitou sua renúncia.

Em 17 de janeiro de 2019, o Papa decidiu extinguir a Pontifícia Comissão Ecclesia Dei , e o seu secretário, Dom Guido Pozzo, foi enviado, com apenas 68 anos, para ser o superintendente económico da Pontifícia Capela Sistina Musical, um cargo meramente honroso.

Depois foi a vez de D. Francesco Cavina, Bispo de Carpi, nomeado em 14 de novembro de 2011, que, depois de menos de oito anos, foi forçado a entregar a sua demissão, depois de ter vivido a tragédia do terremoto e de ter trabalhado arduamente pela reconstrução; aos 64 anos, ficou sem qualquer trabalho e até hoje vive em casa de sua família, “desempregado”.

Não houve a tão alegada “misericórdia” para outra “vítima do terremoto”. Na verdade, 2020 foi o ano da demissão de Monsenhor Giovanni D’Ercole, que também foi pressionado a apresentar a sua demissão. Envolvido no trágico terremoto de L’Aquila (2009), onde foi Bispo auxiliar, encontrou-se depois na linha de frente, como Bispo de Ascoli Piceno, após o terremoto de Amatrice-Norcia-Visso (2016-2017). Também no caso dele, não houve nenhuma explicação oficial. Ficou, no entanto, bastante claro que o seu vídeo, no qual mostrava que não gostava das contínuas restrições à vida sacramental da Igreja devido à histeria coletiva causada pelo surto de Covid, pesou na decisão.

Novembro de 2021. O Arcebispo de Paris, Monsenhor Michel Aupetit, foi acusado por um semanário francês de ser demasiado atencioso para com uma mulher, nove anos antes. Os promotores franceses abriram uma investigação preliminar por agressão sexual contra uma pessoa vulnerável. Aupetit, aos 70 anos, apresentou a sua demissão, que foi imediatamente aceita pelo Papa. Admitiu ele que aceitou sob pressão da comunicação social, porque, segundo disse, “um homem difamado já não tem condições de governar”. O processo foi encerrado em setembro de 2022 por inexistência do crime.

Do mesmo modo, no último ano e meio, seis prelados foram atingidos em cheio pela “misericórdia” de Francisco. Já o Mons. Giacomo Morandi, depois de nem cinco anos como Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, substituiu Mons. Massimo Camisasca na diocese de Reggio Emilia-Guastalla: uma provável recompensa pelo Responsum sobre a bênção de duplas homossexuais.

9 de março de 2022: Francisco destituiu o Bispo de Arecibo (Porto Rico), Dom Daniel Fernández Torres, com apenas 58 anos de idade, após este se recusar a renunciar. As razões são claras, mas não publicamente admissíveis: recusa em assinar primeiro uma declaração conjunta dos bispos porto-riquenhos, que obrigava como um dever católico a polêmica vacina; depois, as declarações contrárias à limitação das Missas no rito antigo. Torres também se recusou a enviar os seus seminaristas para o recém-aprovado Seminário Interdiocesano. Não foi sinodal o suficiente e foi cortado do pontificado da misericórdia que acolhe a todos – menos aqueles considerados “muito católicos”.

Depois disso, o mesmo destino se abateu sobre outros dois secretários do Papa Bento XVI : Monsenhor Georg Gänswein, literalmente expulso de Roma e enviado para a Alemanha, sem posto; e Dom Alfred Xuereb, enviado como núncio na Coreia e na Mongólia, com término do cargo no momento em que se preparava a Viagem Apostólica de Francisco(!): 64 anos, desempregado.

As bombas que ceifaram as atuações de Strickland, Rey e Burke, fecham (por enquanto) esta longa série de atos totalitários e injustos. Recordemos ainda o tratamento dispensado ao Cardeal Giovanni Angelo Becciu, a súbita demissão de Dom José Rodríguez Carballo, o tratamento dispensado a Dom André Léonard, com a supressão da Fraternidade Sacerdotal dos Santos Apóstolos que ele fundou. O fato cada vez mais evidente é que este Papa não pretende “fazer prisioneiros”, apesar de pregar a tolerância, o acolhimento de todos e a a sinodalidade “democrática” na Igreja. Mais preocupantes são as remoções forçadas de bispos comuns, sem que as razões sejam conhecidas, não só pelo público, mas sequer por eles próprios. Outro sinal perigoso de uma plenitudo potestatis mal compreendida . E de uma pastoral nada – realmente nada – misericordiosa, inclusiva ou tolerante. É a política do “golpear um para educar cem”.

Que será da Santa Igreja? Quando Nosso Senhor voltar, ainda encontrará a Fé sobre a Terra? Rezemos e ofereçamos todos os nossos sacrifícios pela restauração da santa Igreja, e por um Papa e Bispos fiéis e santos.


Referência:

SCROSATI, Luisella. “The pontificate of purges: ten years of defenestrations”, para o New Daily Compass, disp. em:
https://newdailycompass.com/en/the-pontificate-of-purges-ten-years-of-defenestrations
Acesso 30/11/2023.

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6 respostas

  1. Falta de explicação razoável para os afastamentos por parte de quem abriu a porta da frente da Igreja para o progressismo, no caso. Nem poderia haver alguma, já que implicaria na admissão de que princípios básicos de fé estão sendo deixados de lado.

  2. Estamos vivendo uma triste e terrível situação, a qual os nossos avós nem sequer sonhariam que seria possível. Mas precisamos manter a confiança. Tudo há de se resolver e estes tempos maus serão abreviados.

  3. A caçada começou faz tempo! A verdade que um bispo mesmo sendo “mediano” no que diz respeito a uma vida pastoral. Se por acaso ele discordar 1 milimetro do diz Francsico, é o suficiente para uma investigação. Esse papado começou com a promessa de limpar a Cúria Romana, vemos que é verdade, uma vez que essa limpeza se estendeu ao bom clero que ainda resiste as ondas progressistas. Ta tudo bem claro e simples de entender, só não vê quem não quer se indispor, por falta de amor à Verdade. Francisco, se é verdade, que é um Papa legítimo, flerta com a apsotasia, desde os tempos de padre, não seria diferente hoje!

  4. Ainda teve excomunhões, como do Bispo Minutella na Itália e do Padre Dornelles no Rio Grande do Sul…oremos ao Santo Deus para que nos diga o que fazer e nos envie um Santo que supere estas crises…estamos na Idade Renascentista Digital, tudo é lindo e podre por dentro. Oremos.

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A BÍBLIA CONFIRMA A SANTA IGREJA

A BÍBLIA COMO “ÚNICA REGRA” É HERESIA:
 
“Antes de tudo, sabei que nenhuma profecia da Escritura é de interpretação particular.”
(2 Pedro 1,20)
 
“Escrevo (a Bíblia) para que saibas como comportar-te na Igreja, que é a Casa do Deus Vivo, a coluna e o fundamento da Verdade.”
(1Timóteo 3,15)
 
“…Vós examinais as Escrituras, julgando ter nelas a vida eterna. Pois são elas que testemunham de Mim, e vós não quereis vir a Mim, para terdes a vida.”
(João 5,39-40)
 

“Porque já é manifesto que vós (a Igreja) sois a Carta de Cristo, ministrada por nós (Apóstolos), e escrita não com tinta, mas com o Espírito do Deus vivo, não em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne do coração (…); o qual nos fez também capazes de ser ministros de um Novo Testamento, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata e o espírito vivifica.”
(2Cor 3,3.6)

A IGREJA SEMPRE OBSERVOU A TRADIÇÃO APOSTÓLICA
 

“Em Nome de nosso Senhor Jesus Cristo, apartai-vos de todo irmão que não anda segundo a Tradição que de nós recebeu.”
(2 Tessalonicenses 3,6)

“Então, irmãos, estai firmes e guardai a Tradição que vos foi ensinada, seja por palavra (Tradição), seja por epístola nossa (Bíblia). ”
(2 Tessalonicenses 2, 15)
 
JESUS CRISTO INSTITUIU O PAPADO
 

“Tu és Pedra, e sobre essa Pedra edifico a minha Igreja (…). E eu te darei as Chaves do Reino dos Céus; e tudo o que ligares na Terra será ligado nos Céus, e tudo o que desligares na Terra será desligado nos Céus.”
(Mateus 16, 18)

“(Pedro,) apascenta o meu rebanho.”
(João 21,15-17)

“Irmãos, sabeis que há muito tempo Deus me escolheu dentre vós (Apóstolos), para que da minha boca os pagãos ouvissem a Palavra do Evangelho.”
– S. Pedro Apóstolo, primeiro Papa da Igreja de Cristo (Atos dos Apóstolos 15, 7)
 
“Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça. E tu, confirma os teus irmãos.”
– Jesus Cristo a S. Pedro (Lucas 22, 31-32)
 
A IGREJA SEMPRE VENEROU MARIA COMO MÃE DE DEUS
 

“Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe do Senhor? (Mãe do Senhor = Mãe de Deus, pois Jesus é Deus)”
O Espírito Santo pela boca de Isabel à Virgem Maria (Lucas 1,43)

“De hoje em diante, todas as gerações me proclamarão Bem-aventurada!”
– Santíssima Virgem Maria, Mãe de Nosso Senhor
(Lucas 1, 48)

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“Há um só Senhor, uma só Fé, um só Batismo”
(Efésios 4,5)

“Ainda que nós ou um anjo baixado do Céu vos anuncie um evangelho diferente do nosso (Apóstolos), que seja anátema.”
(Gálatas 1, 8)

NÃO HÁ SALVAÇÃO SEM A EUCARISTIA
 

“Em Verdade vos digo: se não comerdes da Carne e do Sangue do Filho do homem, não tereis a Vida em vós mesmos.”
(João 6, 56)

“Minha Carne é verdadeiramente comida, e o meu Sangue é verdadeiramente bebida.”
(João 6, 55)
 
“O Cálice que tomamos não é a Comunhão com o Sangue de Cristo? O Pão que partimos não é a Comunhão com o Corpo de Cristo?”
(1ª aos Coríntios 10, 16)
 
A IGREJA SEMPRE CREU NA INTECESSÃO DOS SANTOS, QUE ROGAM POR NÓS NO CÉU
 

“E a fumaça do incenso subiu com as orações dos santos, da mão do anjo, diante de Deus.”
(Apocalipse 8, 4)

“Aqui (no Céu) está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os Mandamentos de Deus e a Fé em Jesus.”
(Apocalipse 14, 12)
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