Na véspera da Páscoa judaica, Jesus sabia que havia chegado a sua hora. Caía a noite sobre o mundo, sobre os velhos ritos, e os antigos sinais da Misericórdia de Deus para com a humanidade iriam realizar-se plenamente, abrindo caminho a um verdadeiro amanhecer: a nova Páscoa. A Eucaristia foi instituída durante a noite, em preparação à Manhã da Ressurreição.
“FAZEI ISTO EM MEMÓRIA DE MIM” O Mandamento de Jesus para repetir seus gestos e palavras até a sua volta, não é somente para nos recordarmos do que Ele fez. É para a Celebração Litúrgica de sua Vida, Morte e Ressurreição, – e de sua Intercessão única e exclusiva pela nossa salvação.
Diz a Sagrada Escritura que especialmente no domingo, dia da Ressurreição de Jesus, os primeiros cristãos se reuniam para “partir o Pão” (At 20,7). Assim a celebração da Eucaristia permanece até os nossos dias, com a mesma estrutura fundamental. E assim, de celebração em celebração, anunciando o Mistério Pascal de Jesus “até que Ele venha (1Cor 11,26)”, o povo de Deus peregrina pelo mundo em direção à Pátria Celeste, quando todos os eleitos se assentarão à Mesa do Reino.
Deus pode o que nós não podemos. Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito homem, não nos deixou somente um “símbolo”, mas ficou Ele mesmo conosco. O Senhor foi para o Pai, mas permanece com os que o amam. Não nos deixou uma “lembrança”, uma imagem que se dilui com o tempo, como fotografia que amarela e não tem significado para os que não conheceram a pessoa. Sob as espécies do Pão e do Vinho, encontra-se o próprio Cristo, realmente Presente.
Da Igreja primitiva temos o testemunho detalhado de S. Justino Mártir (séc. II) sobre o desenrolar da Celebração Eucarística:
“Os cristãos celebram a Eucaristia desde as origens, e sob uma forma que, em sua substância, não sofreu alteração através da grande diversidade do tempo e das liturgias, porque temos consciência de estarmos ligados ao Mandato do Senhor, dado na véspera de sua Paixão: ‘Fazei isto em memória de Mim (1Cor 11, 24-25)’. (…) Ao fazermos isto, oferecemos ao Pai o que Ele mesmo nos deu: os dons de sua Criação, pão e vinho, que pelo poder do Espírito Santo e pelas palavras de Cristo tornam-se Corpo e Sangue de Cristo, que, assim, se torna Real e misteriosamente Presente. (…) No ‘dia do Sol’ (domingo), como é chamado, reúnem-se num mesmo lugar os habitantes, quer das cidades, quer dos campos. Leem-se ora os comentários dos Apóstolos, ora os escritos dos Profetas. Depois, o que preside toma a palavra para aconselhar e exortar à imitação de tão sublimes ensinamentos. Seguem-se as preces da comunidade e, quando as orações terminam, saudamo-nos uns aos outros com o ósculo. Em seguida, leva-se àquele que preside aos irmãos o pão e o vinho. (…) Ele os toma e faz subir louvor e glória ao Pai do Universo, no Nome do Filho e do Espírito Santo, e rende graças (no grego Eucharistian) longamente, pelo fato de termos sido julgados dignos destes Dons. Terminadas as orações e ações de graças, o povo presente aclama, dizendo amém. Depois de o presidente ter feito a ação de graças e o povo ter respondido, os diáconos distribuem a Eucaristia e levam-na também aos ausentes.”
– Carta de S. Justino ao imperador Antonio Pio (S. Justino, ano 155 dC, em Apologeticum 1,65)
Nesse fascinante registro histórico da Igreja primitiva, vemos que a Santa Missa sempre foi celebrada da mesmíssima maneira como fazemos até hoje, até nos seus principais detalhes! [Leia também o artigo “‘Missa de sempre’ – Faz sentido essa expressão?, o qual contém explicações detalhadas sobre o sentido da Missa].
Prefigurações e Adoração Eucarística
O Maná ou “Pão do Céu”, com o qual Deus alimentou o povo hebreu durante 40 anos no deserto, na ocasião da fuga do Egito (Ex 16, 4-36), era uma prefiguração da Eucaristia, assim como a ceia pascal judaica, celebração da libertação da escravidão (Lv 23, 4-14). Também as multiplicações dos pães pelo Senhor (Mt 14, 13-21 e 15, 29-39) foram prefiguração da Eucaristia, anúncio feito pelo próprio Jesus (Jo 6, 35-51).
Na Quinta-Feira Santa Jesus instituiu a Eucaristia, declarando: “Isto É o meu Corpo” e “Isto É o meu Sangue”. Até hoje, a cada Missa, pelo poder dado por Cristo a todo sacerdote, o pão e o vinho transubstanciam-se, isto é, tornam-se verdadeiramente Corpo e Sangue do Salvador (§CIC 1376-7/1413). Torna-se presente, mais uma vez, o Sacrifício de Cristo por nossa salvação.
A Igreja aconselha e exorta todo cristão a adorar, agradecer e louvar a Nosso Senhor Jesus Cristo na preciosa Eucaristia: na Missa, especialmente na Consagração e no momento da Comunhão; na Adoração ao Santíssimo Sacramento, a qualquer hora, em qualquer Tabernáculo do mundo; nas Horas Santas, nas Procissões do Corpo de Deus (Corpus Christi), acompanhando-o com profunda reverência. Para recebermos com adoração e dignidade a Eucaristia, devemos estar em estado de graça (sem pecado mortal), estar em paz com todos, ter fé na Presença Real de Cristo no Pão Consagrado e comungar com extremo respeito e devoção.
Nesse momento sagrado, os anjos presentes rezam por nós e oferecem nossas orações a Deus. O presente mais agradável que podemos oferecer à Santíssima Trindade é a Eucaristia. Cada Missa eleva nosso lugar no Céu, aumenta a nossa felicidade eterna. Cada vez que olhamos cheios de fé para o Pão Consagrado e o Cálice da Salvação, ganhamos uma recompensa no Céu. A Missa é a maior, mais completa e mais poderosa oração, a mais perfeita prática dada aos cristãos.
O Santíssimo Sacramento
“Quem come da minha Carne e bebe do meu Sangue
permanece em Mim, e Eu nele” (Jo 6, 56)
A PRECIOSÍSSIMA EUCARISTIA “é a Fonte e o Ápice de toda a vida cristã”. “Os demais Sacramentos, assim como todos os ministérios eclesiásticos e tarefas apostólicas, se ligam à sagrada Eucaristia e a ela se ordenam. Pois a Santíssima Eucaristia contém todo o Bem espiritual da Igreja, a saber, o próprio Cristo, nossa Páscoa” (CIC §1324).
Assim instrução do atual Catecismo confirma e afirma, com precisão, o que a Igreja sempre ensinou: a Eucaristia é a excelência e a perfeição dos Sacramentos; pois apesar das maravilhas que os outros Sacramentos produzem na alma, todos eles são instrumentos usados por Deus para nos dar a sua Graça. Na Sagrada Eucaristia, entretanto, não temos um instrumento que nos comunica a Graça Divina, e sim o próprio Autor da graça! Pois Jesus Cristo, real e verdadeiramente presente, faz-se Alimento para a nossa salvação!
A Presença de Cristo no Santíssimo Sacramento começa no momento da Consagração e dura enquanto permanecem as Espécies Eucarísticas. Cristo está presente inteiro em cada uma das Espécies e inteiro em cada parte delas, de maneira que a fração do Pão não o divide. A Eucaristia, portanto, é o Sacramento que contém, sob as formas de pão e de vinho, verdadeiros, reais e substancialmente presentes o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, para Alimento de nossas almas.
A Eucaristia realiza a Comunhão de vida com Deus e a unidade dos fiéis católicos, pelas quais a Igreja se identifica. Na Eucaristia está o clímax tanto da ação pela qual, em Cristo, Deus santifica o mundo, como do culto que no Espírito Santo os homens prestam ao mesmo Cristo e, por Ele, ao Pai. Pela Celebração Eucarística já nos unimos à Liturgia do Céu e antecipamos a vida eterna, quando Deus será Tudo em todos (1Cor 15,28). A Eucaristia é o resumo e a suma da nossa Fé. “A nossa maneira de pensar concorda com a Eucaristia, e a Eucaristia, por sua vez, confirma a nossa maneira de pensar” (Sto. Irineu – séc. II, apud CIC §1324-7).
Seria desnecessário dizer mais do que isso. A Eucaristia é, simplesmente, o auge, o clímax, a santificação, a união entre os Santos da Terra os do Céu, a antecipação da vida eterna, o resumo e a suma da nossa Fé! Pela Eucaristia podemos viver, em certo sentido, o Céu já aqui na Terra! Santo Tomás de Aquino diz que “todos os Sacramentos estão ordenados para a Eucaristia, como para o seu fim”: toda a riqueza dos Sacramentos se cumpre no Santíssimo Sacramento.