HÁ COISAS QUE me entristecem profundamente no ser católico de hoje, em vista ao que foi ser católico ontem. Não falo por saudosismo e nem por algum sentimento de nostalgia, como o de algumas pessoas que, eternamente iludidas, consideram sempre melhor tudo o que havia no tempo passado do que aquilo que existe no presente. Não se trata disso. Eu falo de um sentimento de perda, que é real e bastante concreto.
Entristece-me, entre muitas outras coisas, entrar em igrejas católicas – templos sagrados erigidos em honra do Deus Vivo e Verdadeiro – e ver que atualmente se parecem com caixotes. Sumiram os ornamentos, a decoração litúrgica, a tapeçaria, boa parte do estatuário (e as estátuas que temos hoje são geralmente feíssimas, brutas e mal acabadas), o aroma permanente do incenso, as velas…
Ah, as velas… Foram substituídas, em muitos de nossos templos, por pavorosos “velários eletrônicos” nos quais, sob um vidro, vemos velas artificiais, de plástico, que se acendem quando se depõe uma moeda por uma fresta na sua parte frontal – tal qual aqueles papa-níqueis que vemos em shoppings e supermercados, a nos oferecer gomas de mascar ou bolinhas coloridas em troca de moedas.
Lembro-me de quando eu era criança e minha mãe me levava à igreja para rezar. Tenho lembranças especialmente vivas da igreja de Santo Antônio, na Praça do Patriarca, centro de São Paulo, antiga e muito bela apesar de singela. A iluminação era suave, indireta, e velas eram acesas diante do Santíssimo; ali as pessoas se botavam de joelhos para rezar. Eu, aos meus 7 ou 8 de idade, observava atentamente as chamas tremeluzentes diante do estatuário, dos afrescos, do Sacrário… E, mesmo sem querer, quando dava por mim estava entoando, mentalmente ou em sussurro, um Pai-Nosso, uma Ave-Maria ou palavras de ação de graças a Deus ali presente.
Todo o ambiente era convidativo à oração, e a chama das velas tem esse poder de acalmar a mente, reduzir o ritmo dos pensamentos, abrandar a ansiedade (tanto que são usadas em terapias para combater estresse e insônia). Hoje, porém, as velas não estão mais no interior das igrejas. “Não pode”, “Ui, é perigoso” e blablabla… Os velários que ainda existem foram postos do lado de fora, muitas vezes junto dos banheiros.
Fato inegável é que antes se sentia, de modo incisivo e muito forte, quase inquietante, a Presença de Deus no interior das igrejas ditas “pré-conciliares”. Ao entrar, tomava-se imediata consciência de se estar em um ambiente sagrado, digno do maior respeito. Fazer silêncio era automático.
Hoje, lamentavelmente, já não há muita diferença entre os templos católicos e os neoprotestantes, ou entre o ambão e o palco-púlpito dos ditos “evangélicos”. Eu sonho – já sonhei mais, é verdade –, mas ainda sonho com a possibilidade de um resgate, de ver nascer o dia em que tudo o que perdemos será recuperado, quando aqueles homens que deveriam buscar a santidade mais do que todos se cansarem de brincar de revolucionários e voltarem a se apaixonar pelas coisas de Deus. Quando quiserem deixar de se misturar com o povo para assumir a missão que lhes cabe e foi confiada, para a salvação desse mesmo povo que tanto dizem amar.
Henrique Sebastião