Doutrina imutável conforme formalizada desde o XIX Concílio da Igreja,
o santo Concílio de Trento – I
Diz o XIX Concílio Ecumênico de Trento (1545-1563) que tanto os Livros Sagrados quanto a Tradição oral contêm verdades “ditadas”, em sentido lato, por Deus. Usam o termo Autor no sentido técnico, falando de quem compôs um livro. A natureza da Inspiração assim, resume-se em uma frase: Deus é o Autor dos Livros Sagrados.
Controvérsia sobre o “ditado verbal” dos textos sagrados. A tal questão referiu-se o Concílio Tridentino, marcando o início de uma discussão católica: uns querem estender a Inspiração até às palavras em si; outros, apenas às coisas e conceitos abordados nas Escrituras. A seguir, veremos em que se constituem essas diferentes abordagens teológicas.
1. A doutrina que afirma o Ditado verbal
O grande teólogo espanhol, religioso da Ordem dos Frades Pregadores e o confessor de Santa Teresa de Ávila, Frei Domingos Bañez[1], distinguiu três modos de Inspiração divina:
1) A Revelação das coisas desconhecidas;
2) A moção especial e assistência do Espírito Santo quanto às coisas conhecidas;
3) A sugestão e uma espécie de ditado para todas as palavras[2].
Bañez afirmou que sem essas distinções não se poderia distinguir bem a importante diferença que há entre a autoridade das Sagradas Escrituras e a das definições dos Concílios.
Defensores dessa doutrina são todos os doutores da Ordem dos Pregadores (dominicanos), e também certos autores importantes, tais como Franciscus Titelmans, Guilherme Estio, Basílio Pôncio, Gregório de Valentia e Juan de Maldonato e outros.
2. A doutrina que nega o Ditado verbal.
Leonardo Léssio, S.J. (1554 – 1623), vultoso professor de Teologia em Lovaina, viu combatidas, por influência de Miguel Baio, 34 teses suas, entre as quais, estas:
1) Não é necessário que cada uma das palavras das Sagradas Escrituras sejam inspiradas pelo Espírito Santo;
2) não é necessário que cada uma das verdades e sentenças sejam imediatamente inspiradas pelo Espírito Santo ao hagiógrafo;
3) um livro escrito de modo humano, sem assistência do Espírito Santo, pode tornar-se Escritura Sagrada, caso o Espírito Santo ateste depois que nele não há erro.
Léssio não contestava Bañez, mas pretendia combater a ideia de ditação mecânica das palavras, defendida pelos protestantes. Em suas 1ª e 2ª teses ele assim explica, na sua Resposta: usara a palavra “inspirar” é usada como sinônimo de “revelar”. Sustenta, pois, que é necessário um particular impulso do Espírito Santo sobre o hagiógrafo para que escreva as verdades que devem ser escritas; mas que basta uma assistência no que diz respeito à escolha das palavras.
Entre os defensores da doutrina que nega o ditado verbal estão alguns dos maiores teólogos da Igreja em todos os tempos, como o Cardeal São Roberto Belarmino, Doutor da Igreja, e o gigante da Escola de Salamanca e da Escolástica, Francisco Suarez.
3. Sobre a natureza da Inspiração
Segundo um sistema denominado de “Direção divina”[3], o Espírito Santo pode agir no hagiógrafo de três maneiras:
a) de modo antecedente;
b) de modo concomitante: como que vigiando para que não haja erro;
c) de modo consequente: atestando que é verdadeiro o que está escrito.
Notas:
[1] Por sua grande importância, recomendamos a leitura de sua biografia no portal Catholic Encyclopedia, disponível em:
https://www.newadvent.org/cathen/02247a.htm
Acesso em 14/12/2023.
[2] Scholastica commentaria in lam. partem, q. 1, art. 8. (1584).
[3] . I. Bonfrerius, S.J. (1573-1642) e R. Simon (1638-1712).
[4] In totam Scripturam Sacram praeloquia, c. VIII, s. 1 et 7, in Migne Scripturae Sacrae Cursus completus I, pp. 134, 141.